Argentina proibiu demissões, mas está perto de ter como efeito o caos econômico
Com a economia fragilizada em meio a uma renegociação com o FMI, país vizinho corre sério risco de ter onda de falências e, no fim das contas, não conseguir evitar o desemprego
Algumas ideias econômicas podem ser bem intencionadas. Até soam boas em algum momento. Mas, no fim, se revelam piores do que o problema que deveriam solucionar. Os brasileiros conheceram vários exemplos na última década. Juros derrubados na marra, sem a economia criar condições. Isenções e desonerações de impostos que não criaram empregos nem produziram crescimento. E mais algumas ideias infelizes que resultaram na recessão de cinco anos atrás. A Argentina passa pelo mesmo agora. O país, lamentavelmente para nossos vizinhos, costuma ser um laboratório de ideias fracassadas para resolver seus problemas. Não porque os problemas são insolúveis, mas porque costuma escolher um caminho tão fácil quanto equivocado.
Como em muitos países, a economia argentina foi bastante atingida pelas medidas de isolamento contra o coronavírus. E, com o desemprego subindo, além de criar um programa que permite às empresas evitar demissões, parecido com o brasileiro — e com iniciativas em todo o mundo —, o governo fez algo a mais: proibiu que elas aconteçam. Desde abril, é proibido demitir na Argentina. Uma medida apresentada para preservar os empregos, que recentemente foi estendida até 2021. Se uma empresa quiser dispensar funcionários, deverá pagar a indenização em dobro. Em princípio, o veto às demissões até atingiu o alvo.
Desemprego – Argentina
- Oficial 13%
- Informais 35%
A Argentina, nos números oficiais, tem 13% por cento de desempregados. É uma taxa menor do que a daqui do Brasil (14,6%). Mas corre o risco de provocar uma onda de falências das empresas e, no fim, de demissões. Em meio à crise, elas não podem ajustar os custos à queda na receita e têm mais dificuldades para se recuperar, assim como a economia argentina como um todo. Além disso, a medida não protege os trabalhadores informais, categoria na qual o desemprego aumentou 35% no segundo trimestre, segundo dados do próprio governo.
O país ainda teve que imprimir em pesos o equivalente a US$ 21 bilhões para cobrir um programa que paga parte do salário dos trabalhadores mantidos nas empresas. A economia, que já vivia fragilizada em meio a uma renegociação com o FMI, entrou em estado desesperador. Agora, a ameaça é de que não só muitos trabalhadores podem ficar sem emprego nos próximos meses como ainda lidar com a inflação mais alta devido ao aumento de gastos públicos. E isso em um país onde a inflação já anda pelos 40% ao ano e faltam dólares para quem quer comprar e proteger as economias. É claro que, em crises, governos devem agir para proteger o emprego. Mas intervir na liberdade das empresas para demitir não é a melhor saída. Algo que a Argentina corre o sério risco de aprender da pior maneira.
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