Argumentos para processar o Facebook por monopólio são difíceis de provar
Na visão dos acusadores, o controle de quatro das cinco plataformas sociais mais usadas configura ataque à competição entre as empresas
Na semana passada, a Comissão Federal de Comércio e 48 estados americanos anunciaram dois processos na Justiça dos Estados Unidos contra o Facebook. A empresa dona da rede social mais usada no mundo, segundo os procuradores, prejudica a competição ao controlar também o Instagram e o WhatsApp. Ambos são ex-concorrentes, comprados quando eram vistos como ameaça aos negócios da empresa, atuando em segmentos – fotos e comunicação pessoal – em que o Facebook não era relevante. O Instagram foi comprado em 2012 e o Whatsapp, em 2014. A reunião das redes em um único dono faz o Facebook, somadas as empresas controladas, ter um número de usuários praticamente igual ao número de habitantes do planeta, 7,1 bilhões de pessoas.
Usuários de redes sociais
- Facebook – 2,7 milhões
- Whatsapp – 2 bilhões
- Youtube – 2 bilhões
- Messenger – 1,3 bilhão
- Instagram – 1,158 bilhão
- Tik Tok – 689 milhões
- Twitter – 353 milhões
Fonte: Statista
São 2,7 bilhões no próprio Facebook. Mais 2 bilhões no WhatsApp. Outro 1,3 bilhão de usuários baixou o Facebook Messenger, comunicador da própria rede social. E mais 1,158 bilhão está no Instagram. Na visão dos acusadores, o controle de quatro das cinco plataformas sociais mais usadas configura ataque à competição. É uma tese difícil de provar. Primeiro, os negócios foram aprovados pelos órgãos reguladores. Depois, se fundir a outra empresa ou comprar um concorrente é prática corriqueira do mundo dos negócios. Terceiro, porque as provas oferecidas – mensagens que mostram Mark Zuckerberg, CEO da rede social, preocupado com a ameaça oferecida pelo WhatsApp e pelo Instagram – revelam um comportamento comum para uma empresa que quer se manter no mercado.
Não quer dizer que tanta concentração numa empresa é boa. Se conseguiu expandir seus negócios, o Facebook, assim como Instagram ou WhatsApp, deixou de ter a rede social mais inovadora. Este papel hoje é do Tik Tok, rede chinesa de vídeos curtos que bateu o recorde de downloads durante a pandemia. Apesar dos problemas com o governo americano e da acusação de roubar dados de usuários do país, tem hoje 689 milhões de usuários. O Tik Tok atrai usuários jovens devido ao algoritmo, mais eficiente em mostrar o que querem ver do que os do conglomerado Facebook ou de qualquer outro concorrente. E ficar para trás na inovação pode custar caro no futuro.
Existe ainda o chamado “efeito-Microsoft”. A empresa de Bill Gates era a maior do mundo quando sofreu processo parecido nos anos 2000, acusada de sufocar a concorrência. A Microsoft, graças ao sistema operacional Windows, presente na maioria dos PCs, era muito mais poderosa no final dos anos 90 do que o Facebook. Entrou numa batalha com o governo americano, que venceu no fim. Mas se envolver na batalha judicial em vez de acompanhar a evolução do mercado foi fatal para os negócios. A Microsoft perdeu o mercado das buscas para o Google, que cresceu em meio à disputa com o governo e mais tarde se tornou um desafiante em vários mercados, inclusive o mais importante, o de sistemas operacionais para smartphones, hoje dominado pelo Android. Segue uma empresa importante. Mas nunca mais foi como antes.
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