Depois da crise da Covid-19, crise da dívida ameaça economias dos países
Gastos com a pandemia trazem preocupação em relação à recuperação das nações; endividamento no mundo hoje supera, proporcionalmente, a situação no final da Segunda Guerra Mundial
Para enfrentar os efeitos do coronavírus nas economias, os governos não pouparam dinheiro em 2020. Algo como US$ 15 trilhões foram injetados nas economias. Só os Estados Unidos já gastaram perto de US$ 8 trilhões e ainda querem gastar mais US$ 1,9 trilhão no pacote de Joe Biden. União Europeia, China, Japão e até o Brasil, que aumentou os gastos em R$ 500 bilhões, também criaram programas robustos de ajuda. A ideia era evitar a alta do desemprego e evitar a quebradeira de empresas. Hoje, olhando os efeitos no caso brasileiro, se discute se tantos gastos eram realmente necessários. Um auxílio emergencial menor, como queria o Ministério da Economia, talvez pudesse durar mais tempo, evitando que tivesse deixado de ser pago. Mas também é fato que o resgate salvou as economias. Aqui, por exemplo, a previsão de queda em 2020 passou de -7,4% em junho para -4%, segundo a prévia divulgada na semana passada pelo Banco Central.
Mas agora, com as economias melhorando, uma preocupação está no horizonte: a conta da recuperação. Segundo levantamento do jornal Folha de S. Paulo, o endividamento no mundo hoje supera, proporcionalmente, a situação no final da Segunda Guerra Mundial. Segundo o Institute of International Finance (IIF), que reúne 400 bancos em 70 países, a dívida global – de governos e de empresas – deu um salto de US$ 50 trilhões nos cinco anos entre 2016 e 2020. O mundo deve hoje US$ 280 trilhões ou 365% mais do que toda a riqueza que os países produzem, somados. Números compilados pelo jornal Folha de S. Paulo mostram que os países ricos devem atualmente quatro vezes mais do que um ano do PIB mundial. Os países em desenvolvimento devem duas vezes e meia.
No passado, segundo um estudo do Banco Mundial, todos os momentos em que a dívida cresceu demais, principalmente entre os países emergentes, sempre terminaram numa crise financeira. Um exemplo é a famosa crise da dívida aqui no Brasil nos anos 80. Também entra na lista a crise asiática nos anos 90 e o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2007. Nas palavras da economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart, uma crise silenciosa vem sendo gestada e pode prejudicar a recuperação das economias no pós-Covid. Sem pânico e sem as bolsas caindo 10% em um dia, como o mundo está acostumado a reconhecer crises, mas capaz de impor cortes dramáticos de gastos dos governos e de crédito nos bancos, afetando o crescimento. É um cenário preocupante e que precisa estar no radar do governo. No Brasil, com os gastos emergenciais, a dívida chegou aos 90% do PIB. Passada a pandemia, se o país não mostrar que está no caminho de ter as contas em ordem, o ajuste exigido pode ser mais duro, com mais sacrifícios. É o recado do Banco Mundial que governos e empresas deveriam ouvir com atenção.
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