O uso do Pix nos faz gastar mais do que deveríamos?
Como muitos bancos comunicam o valor debitado e o saldo restante, somos submetidos ao sofrimento psicológico de pagar por algo, e isso leva a um controle maior das finanças
Uma nota ou uma moeda quase sempre valem mais do que o papel ou o metal que foram necessários para que fossem produzidas. Esse é um dos aspectos mais curiosos do dinheiro, a maneira como foi revolucionário para substituir o escambo, o hábito de trocar coisas que foi a base da economia em muitas civilizações. Tudo ou quase tudo pode ser trocado por dinheiro. Mas o dinheiro também traz um problema. Como pode ser trocado por tudo, deve ser gasto para que vivamos com mais prazer, e isso faz com que a maioria das pessoas gaste mais do que devia. Agora, o meio importa. Está bem documentado, por exemplo, que o cartão de crédito nos faz gastar até 18% mais do que compramos com dinheiro vivo ou mesmo com o cartão de débito.
Mas e o Pix?
O sistema de pagamentos automáticos do Banco Central permite pagar ou receber na hora. Será que, por acaso, nos faz gastar mais, como o cartão de crédito, ou menos, como ocorre com o dinheiro? Por ser um modelo novo, implantado no fim de 2020, não há estudos a respeito envolvendo os consumidores brasileiros. Mas junto com o Brasil, 55 países hoje usam meios de pagamento automático. Índia, China, Reino Unido, Chile e Austrália, por exemplo, estão nesse grupo.
Não existem estudos definitivos a respeito. Mas existe algum consenso entre pesquisadores de que pagamentos eletrônicos, como o Pix, não devem levar a maiores gastos. É a opinião, por exemplo, do psicólogo Emir Efendic, da universidade de Maastricht, na Holanda, que estuda como tomamos decisões de consumo. Ele diz que, para a nossa mente, o Pix e outros meios de pagamento semelhantes se parecem mais com dinheiro vivo do que com o cartão.
A diferença está no fato de que, ao pagarmos por algo via Pix, o valor é automaticamente debitado da conta bancária. E muitos bancos comunicam, junto com o valor debitado, o saldo restante. E isso ativa a dor de pagar, o sofrimento psicológico que nos atinge quando gastamos dinheiro. É um dos conceitos mais conhecidos da economia comportamental. Se gastamos com algo, deixamos de gastar com outras coisas. E esse sentimento, ao que tudo indica, acaba fazendo com que não abusemos. Ainda faltam dados definitivos, mas os indícios mostram que, do ponto de vista do comportamento, o Pix traz muito mais vantagens do que desvantagens.
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