Oferta privada de vacinas contra a Covid-19 é boa ideia e poderia acelerar imunização

Se o governo não quer a vacina indiana e as condições forem seguras – nesta parte, cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária avaliar –, por que não deixar o setor privado fornecer?

  • Por Samy Dana
  • 06/01/2021 10h00 - Atualizado em 06/01/2021 13h56
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REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/File Photo Mulher olhando frasco de vacina contra Covid Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVac) negocia a compra de 5 milhões de doses da Covaxin, vacina indiana contra o coronavírus

Imagine a seguinte situação: o governo se interessa por determinada vacina contra a Covid-19 e compra de um fabricante um milhão de doses. Não se interessa, no entanto, por uma segunda vacina, produzida por outro laboratório, mas uma rede de clínicas particulares quer – e compra 100 mil doses do segundo imunizante para aplicar no Brasil. Numa situação, temos um milhão de pessoas vacinadas. Na outra, 100 mil ou 10% a mais. Como ter só um milhão pode ser melhor? Foi essa a discussão quase surreal travada desde o final de semana com a notícia de que a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVac) negocia a compra de 5 milhões de doses da Covaxin, vacina indiana contra o coronavírus, que não está no radar do Ministério da Saúde para a população. Não faltaram críticos. O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) acusou no Twitter a negociação como um privilégio. Houve, como ele, quem tenha visto a possível oferta privada como uma maneira de salvar os brasileiros mais ricos, com condições de pagar por uma vacina em um momento em que não se sabe como será a imunização da população.

Outros argumentaram que a negociação das vacinas por clínicas privadas iria aumentar os preços para o governo, já que criaria um concorrente. Ou mesmo que a vacinação nas clínicas tiraria vacinas preciosas da imunização pública. São argumentos que não fazem sentido. Primeiro porque se tratam de vacinas que o governo não quer comprar. Uma coisa seria as clínicas disputando imunizantes como os da Pfizer/ BioNTech, CoronaVac ou mesmo a vacina da Astrazeneca/ Oxford, que fazem parte do Plano Nacional de Imunização. Não é o caso da Covaxin. Se o governo não quer a vacina indiana e as condições forem seguras – nesta parte, cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avaliar –, por que não deixar o setor privado fornecer? Não haverá risco de a compra afetar os preços com o aumento da demanda brasileira. Estima-se que o governo pode vir a comprar de 300 a 400 milhões de doses para imunizar toda a população. A compra privada, de 5 milhões, representa 1,25% do que o governo precisa, caso consiga a maior quantidade.

Compra de vacinas:

  • Governo – 400 milhões
  • Clínicas – 5 milhões (1,25%)

Haveria ainda uma vantagem: liberar lugares na fila do SUS para quem não pode pagar. No modelo atual, ricos e pobres vão disputar as mesmas vacinas, respeitados os grupos prioritários. Mas alguns poderiam sair da fila nas clínicas particulares. Seria a chance de vacinar mais rápido pessoas mais vulneráveis e também mais pobres. A falta de vacinas contra a Covid-19 se deve mais à opção do governo de apostar em um único imunizante, da Astrazeneca, do que ter várias opções, como fizeram países como o Canadá. Não tem nada a ver com a concorrência privada. Impedir a venda e colocar todo mundo na mesma fila pode parecer justo para algumas pessoas. Mas o esforço deveria ser para vacinar mais e não menos pessoas.

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