Para indicar sucessor, maior investidor do mundo, Warren Buffett, fez o contrário do que sempre defendeu

Uma década e meia depois do anúncio de que iria procurar um substituto, bilionário afirmou no último sábado que escolheu dois, os vice-presidentes Greg Abel e Ajit Jain; ainda não há previsão para a troca

  • Por Samy Dana
  • 04/05/2021 17h52
EFE/LAURENT GILLIERON / ARCHIVO homem branco idoso de óculos de grau preto falando e com a mão levantada Hoje, aos 90 anos, Buffett o sexto colocado na lista de bilionários da revista Forbes

Nos anos 60, Warren Buffett revelou aos acionistas da Berkshire Hathaway, holding de investimentos que comanda até hoje, sua incapacidade de saber se uma ação vai cair ou subir no curto prazo. No episódio, que ficou famoso, ele explicou que, diante da incerteza, tudo que podia fazer era apostar no longo prazo, comprando participações em empresas que sabia que iriam gerar retornos no futuro. Por décadas e mesmo atualmente, a prioridade da Berkshire foi investir nas empresas já maduras, como seguradoras e bancos ou até a Coca-Cola, já posicionadas no mercado e que dependem de menos investimentos, podendo pagar grandes dividendos. Um perfil parecido com o do setor elétrico no Brasil. Era a estratégia que viria a ser mais conhecida como investimento de valor. 

Ficaram de lado na maioria das vezes os investimentos em setores mais arriscados, como o de tecnologia, marcados por forte variação nos preços das ações e lucros quase sempre modestos em relação ao valor de mercado das empresas. Só nos últimos anos o investidor fez algumas compras de ações da Apple e da Amazon. A estratégia de valor fez da Berkshire uma das maiores empresas de investimento dos Estados Unidos, com um portfólio de mais de US$ 800 bilhões, e tornou seu CEO uma lenda do mercado financeiro, além de um dos homens mais ricos do mundo. Hoje, aos 90 anos, é o sexto colocado na lista de bilionários da revista Forbes. No entanto, já foi o primeiro, em 2008, depois da crise da bolha imobiliária.  

Era de se esperar que Buffett, avesso à incerteza, oferecesse toda previsibilidade possível sobre o futuro da Berkshire Hathaway. Mas não foi o que se viu. Em 2006, após completar 75 anos, anunciou que iria procurar um sucessor. Parecia que seria rápido, mas a busca levou uma década e meia. Só no último sábado ele indicou Greg Abel, vice-presidente que lida com as empresas do grupo não relacionadas aos seguros. Escolheu inclusive um segundo sucessor. Se algo acontecer a Greg Abel, a presidência passa para outro vice-presidente, Ajit Jain. Só faltou dizer quando a troca vai se consumar. Sem sinais de que pretende se aposentar, assim como seu vice, Charles Munger, de 97 anos, alguns analistas apontaram que foi uma revelação quase de má vontade. Mas outros viram a mudança como algo que virá a seu tempo. Afinal, nem as lendas vivem para sempre. De todo modo, um episódio revelador. Às vezes, nem o melhor investidor do mundo escapa de fazer o contrário do que diz.  

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