Venezuela lança nota de 1 milhão… que não vale nada
Cédula do país vizinho tem maior valor nominal da história, mas consegue comprar apenas um quilo de tomate ou um refrigerante
Em quase todas as moedas do mundo, ter um milhão é enriquecer. Com US$ 1 milhão, por exemplo, é possível investir o dinheiro e viver de renda, mesmo com a taxa Selic a 2% ao ano. Já com R$ 1 milhão é possível garantir uma aposentadoria mais tranquila ou comprar um apartamento. Mas não quando se trata de 1 milhão de bolívares. A cédula colocada em circulação pelo governo da Venezuela tem o maior valor nominal da história. Supera, de longe, a de 10 mil dólares de Singapura, até então a recordista. Mas enquanto a cédula do país asiático vale R$ 42,1 mil, o dinheiro venezuelano tem valor muito menor. Apenas R$ 2,94 (ou 52 centavos de dólar, também pela cotação desta quinta-feira).
Maiores valores nominais
- Bolívar: 1 milhão
- Bolívar: 500 mil
- Bolívar: 200 mil
- Dólar de Singapura: 10 mil
- Dólar de Brunei: 10 mil
- Franco suíço: 1 mil
Na Venezuela, a nota paga, no máximo, um quilo de tomate. Ou uma latinha de refrigerante. Apesar do valor alto, assim como os de outras duas novas cédulas, de 200 mil e 500 mil bolívares, vai servir mesmo como troco. Mas não deixa de servir também de exemplo do descontrole da economia venezuelana. Em 2020, a inflação oficial no país, a maior do mundo, foi de 2.665%, o que leva a moeda de lá a se desvalorizar em níveis assombrosos. Há apenas três anos, o governo já havia cortado cinco zeros. Mas o dinheiro perde valor tão rápido que as transações entre a maioria da população são feitas em dólar.
Até para comprar uma passagem de ônibus é preciso ter a moeda americana, o que cria muitos problemas no dia a dia, já que, em valores baixos, de centavos, geralmente não há troco em dólar nem na moeda local, que não circula em quantidade suficiente para as transações. O governo do ditador Nicolás Maduro estimula a dolarização em busca de algum parâmetro para os preços. Mas também tem a intenção de que as novas cédulas sejam usadas nas pequenas transações, torcendo para que não percam logo todo o valor, como em outras reformas monetárias recentes.
Outra alternativa encontrada é a digitalização dos pagamentos nos serviços públicos, driblando a falta de cédulas e moedas. Mas são paliativos. O principal problema da economia da Venezuela é o gasto descontrolado do governo, que todo ano supera em mais de 20% aquilo que arrecada. A dívida pública no ano passado atingiu 230% do Produto Interno Bruto (PIB). Entre outras despesas, o governo subsidia a gasolina e o diesel, importados, que na prática saem de graça para a população. Produz prejuízos gigantescos para as contas públicas em nome do populismo. A consequência acaba sendo uma nota de 1 milhão com um valor que impressiona, mas não vale praticamente nada, assim como o resto do dinheiro do país. E uma economia arruinada.
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