Venezuela lança nota de 1 milhão… que não vale nada

Cédula do país vizinho tem maior valor nominal da história, mas consegue comprar apenas um quilo de tomate ou um refrigerante

  • Por Samy Dana
  • 12/03/2021 16h09 - Atualizado em 12/03/2021 16h16
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Reprodução/Ministério da Economia da Venezuela Notas venezuelanas de 200 mil, 500 mil e 1 milhão de bolívares Ministério da Economia da Venezuela lançou notas de 200 mil, 500 mil e 1 milhão de bolívares

Em quase todas as moedas do mundo, ter um milhão é enriquecer. Com US$ 1 milhão, por exemplo, é possível investir o dinheiro e viver de renda, mesmo com a taxa Selic a 2% ao ano. Já com R$ 1 milhão é possível garantir uma aposentadoria mais tranquila ou comprar um apartamento. Mas não quando se trata de 1 milhão de bolívares. A cédula colocada em circulação pelo governo da Venezuela tem o maior valor nominal da história. Supera, de longe, a de 10 mil dólares de Singapura, até então a recordista. Mas enquanto a cédula do país asiático vale R$ 42,1 mil, o dinheiro venezuelano tem valor muito menor. Apenas R$ 2,94 (ou 52 centavos de dólar, também pela cotação desta quinta-feira).

Maiores valores nominais

  1. Bolívar: 1 milhão
  2. Bolívar: 500 mil
  3. Bolívar: 200 mil
  4. Dólar de Singapura: 10 mil
  5. Dólar de Brunei: 10 mil
  6. Franco suíço: 1 mil

Na Venezuela, a nota paga, no máximo, um quilo de tomate. Ou uma latinha de refrigerante. Apesar do valor alto, assim como os de outras duas novas cédulas, de 200 mil e 500 mil bolívares, vai servir mesmo como troco. Mas não deixa de servir também de exemplo do descontrole da economia venezuelana. Em 2020, a inflação oficial no país, a maior do mundo, foi de 2.665%, o que leva a moeda de lá a se desvalorizar em níveis assombrosos. Há apenas três anos, o governo já havia cortado cinco zeros. Mas o dinheiro perde valor tão rápido que as transações entre a maioria da população são feitas em dólar.

Até para comprar uma passagem de ônibus é preciso ter a moeda americana, o que cria muitos problemas no dia a dia, já que, em valores baixos, de centavos, geralmente não há troco em dólar nem na moeda local, que não circula em quantidade suficiente para as transações. O governo do ditador Nicolás Maduro estimula a dolarização em busca de algum parâmetro para os preços. Mas também tem a intenção de que as novas cédulas sejam usadas nas pequenas transações, torcendo para que não percam logo todo o valor, como em outras reformas monetárias recentes.

Outra alternativa encontrada é a digitalização dos pagamentos nos serviços públicos, driblando a falta de cédulas e moedas. Mas são paliativos. O principal problema da economia da Venezuela é o gasto descontrolado do governo, que todo ano supera em mais de 20% aquilo que arrecada. A dívida pública no ano passado atingiu 230% do Produto Interno Bruto (PIB). Entre outras despesas, o governo subsidia a gasolina e o diesel, importados, que na prática saem de graça para a população. Produz prejuízos gigantescos para as contas públicas em nome do populismo. A consequência acaba sendo uma nota de 1 milhão com um valor que impressiona, mas não vale praticamente nada, assim como o resto do dinheiro do país. E uma economia arruinada.

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