Brasil precisa parar de politizar a Covid-19 e criar campanha que incentive a segunda dose

Imputar que determinada vacina não tem valor algum é querer causar pânico e desentendimento na população

  • Por Sergio Cimerman
  • 22/06/2021 13h49
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YURI MURAKAMI/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Profissional da Saúde aplica vacina da Pfizer em idoso Profissional da saúde aplica vacina; país precisa incentivar a vacinação da segunda dose

No sábado, 19, chegamos à trágica marca de mais de 500 mil mortos pela Covid-19 no Brasil. Claro que com muito mais erros do que acertos no enfrentamento à pandemia por estes números grandiosos. Perdemos apenas para Estados Unidos e Índia em número de casos e, em mortos, ocupamos a segunda colocação. Estes são dados obtidos pelo site da prestigiosa Universidade John Hopkins. Quando alguém fala que recuperamos milhões de pessoas, isso não é algo a se gabar. É péssimo. Vejamos: falta estrutura para um diagnóstico mais forte e preciso. Não temos a realização do exame de RT-PCR em todos os pontos do país e, sobretudo em contactantes e indivíduos assintomáticos. Aqui um ponto que gostaria de dividir com todos: nosso futebol. O protocolo sanitário da CBF é completo e regido por critérios científicos, e auxiliou em coleta de jogadores e comissão técnica de RT-PCR e foram descobertos casos que jamais seriam evidenciados. Um serviço sério à comunidade. Será que se tivéssemos expandido esta proposta em várias localidades teríamos uma menor transmissão? Creio, sinceramente, que sim. Uma vez que foi provado que a transmissão dentro do campo não ocorreu durante todo o Campeonato Brasileiro do ano passado. As transmissões ocorrem por quebra de protocolo – como o não uso adequado de medidas protetivas. As críticas por sermos anfitriões da Copa América são inúmeras por parte de vários colegiados. Até podem existir casos e vão existir, mas não por medidas propostas. Avião fretado, ônibus privado para local do jogo, isolamento em hotéis determinados e com funcionários testados. Tudo pensando em modo a dirimir a transmissão.

Alguém já se perguntou quantos turistas entram em nosso país mensalmente? Pasmem: algo como 76 mil passam em nossos aeroportos e portos. Assim fica claro que 2 mil a 3 mil pessoas que entraram para a competição entre atletas, comissão técnica e jornalistas não são a fonte primária de aumento de transmissão. Precisamos deixar de politizar a Covid-19. Isto revela apenas fatos ruins para a nossa população. Criam a falsa sensação de segurança com tratamento precoce, que já foi amplamente explicado não haver embasamento científico. Não existe uma campanha sólida para a população voltar para a imunização da segunda dose com negacionistas comentando efeitos adversos e maléficos das vacinas. Isto é nefasto. Deveria ser combatido. O que temos hoje são vacinas e medidas protetivas.

O risco de qualquer vacina em saúde pública beneficia um todo em detrimento de muito poucos. Mas sempre estamos atentos como cientistas e, em qualquer momento, podemos suspender determinada vacina se assim for necessário. Imputar, por exemplo, que a vacina do Butantan, a CoronaVac, não tem valor algum é querer causar pânico e desentendimento na população. Ela tem o seu valor e estamos vendo a efetividade no mundo real. Países que fizeram uso notaram queda de internações e óbitos de modo contundente, e aqui no Brasil idem. Negacionistas afirmam que no Chile esse imunizante fez os casos de Covid-19 crescerem. Até pode ser uma verdade, mas a vacina tem o desfecho de evitar casos graves e óbitos. Este papel tem sido cumprido. São evidências observacionais em todos locais e, quando artigos científicos vierem à tona, deve-se mudar este contexto equivocado. Vamos vacinar, vacinar e vacinar. Independentemente de qual imunizante. Pensar em nossos adolescentes, como outros países já estão a vacinar, pode ser uma questão de tempo e deve ser incorporado. E precisamos começar a pensar na compra das vacinas para 2022, e trabalhar esta ideia hoje, e não no momento da crise que poderemos ter. 

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