Tiroteio após tiroteio, EUA continuam sem controlar suas armas

  • Por Agencia EFE
  • 29/07/2015 10h39

Beatriz Pascual Macías.

Washington, 29 jul (EFE).- Tiroteio após tiroteio, vítima após vítima, os Estados Unidos parecem ter se dado por vencidos em seu esgotado debate sobre o controle de armas, que permite que doentes mentais e ex-condenados tenham em mãos perigosos rifles ou pistolas capazes de semear o horror ao qual a opinião pública parece estar imune.

“Este é o momento de rezar, de curar as feridas. Haverá tempo para esses debates”, se desviou do assunto o governador da Louisiana, Bobby Jindal, famoso por uma frase pronunciada há três anos: “Na Louisiana e em todo os EUA, amamos as armas e a religião”.

Jindal, pré-candidato republicana à Casa Branca, teve que consolar na semana passada os familiares dos dois jovens mortos no tiroteio dentro de um cinema de Lafayette, assassinados por um homem de 59 anos, sem família, com problemas mentais e que, ao ser encurralado pela polícia, se suicidou.

Horas antes do massacre, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confessou em uma entrevista à “BBC” que a maior frustração de seu tempo na presidência é não ter conseguido aprovar leis para melhorar o controle de armas e reduzir a frequência destas tragédias.

O massacre no cinema de Lafayette é apenas o mais recente do constante gotejamento de sangue nos EUA.

Um tiroteio contra duas instalações militares em Chattanooga, no Tennessee, tirou a vida de cinco soldados em 16 de julho, semanas depois de um jovem branco disparar dentro de uma histórica igreja de Charleston, na Carolina do Sul, e matar nove fiéis negros, em um crime de ódio racial.

Com Obama à frente do país, o debate sobre o controle de armas alcançou o ápice em 2012 por causa do assassinato de 12 pessoas em um cinema de Aurora, no Colorado, e pelo massacre na escola Sandy Hook de Newtown, em Connecticut, onde 20 crianças e seis mulheres foram assassinadas a tiros.

A morte de 15 pessoas em 1999 na escola de Columbine, em Littleton, no Colorado, por dois estudantes também fez os americanos se contorcerem: o então presidente, Bill Clinton, pediu ao Congresso que restringisse o acesso a armas, e estudantes de todo o país fundaram a organização SAFE (Alternativas Saudáveis à Epidemia de Armas).

“Como mostra a história, os massacres provocam fortes mudanças na opinião pública, mas os pedidos de mudança em momentos pontuais importam menos do que a capacidade de pressão da poderosa Associação Nacional do Rifle (NRA)”, disse à Agência Efe Michael Shifter, presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano.

O poderoso lobby, criado no século XIX como um clube esportivo para melhorar a pontaria de seus membros, põe todos seus esforços em defender a interpretação mais literal da Segunda Emenda da Constituição, que consagra o direito dos indivíduos de possuir e portar armas de fogo.

“É o Congresso dos Estados Unidos que tem o dever de aprovar uma lei que evite que as armas caiam nas mãos de pessoas com antecedentes criminais ou com transtornos psicológicos. Deveríamos ter um extenso debate sobre como mudar a cultura das armas em nosso país”, afirmou o líder democrata do Senado, Harry Reid, à Agência Efe.

Após o estarrecedor massacre da escola de Newtown, Reid conseguiu levar adiante no Senado um projeto de lei para instaurar um sistema de verificação de antecedentes e impedir que as armas pudessem ser compradas por criminosos e doentes mentais.

O projeto foi barrado pelos republicanos da Câmara dos Representantes, mas desde então estados como Washington, Connecticut, Nova York, Oregon, Colorado e Maryland aprovaram leis para endurecer o controle de armas e, em alguns casos, supervisionar os antecedentes dos compradores e restringir o número de balas.

No entanto, no país da máxima liberdade individual, exemplificada pelo direito de portar armas, o horror dos massacres não parece sensibilizar aqueles que guardam revólveres ou escopetas na mesinha de cabeceira, dispostos a apertar o gatilho para defender sua vida ou a de sua família.

De fato, segundo dados da consultoria Gallup, o número de americanos que é favorável a mais controles sobre as armas caiu dramaticamente nos últimos 24 anos, passando de 79% em 1990 para 47% em 2014.

Enquanto isso o número de armas em posse dos 319 milhões de americanos não parou de crescer e, em 2012, os civis tinham à sua disposição 114 milhões de pistolas, 110 milhões de rifles e 86 milhões de escopetas, segundo um relatório do Serviço de Investigação do Congresso.

Com mudanças menores em nível estadual, faz duas décadas que o Congresso não aprova nenhuma lei para restringir as armas e a única mudança foi promovida por Obama por meio de 23 decretos, que assinou diante das vítimas do massacre da escola de Newtown e que podem ser revogados pelo próximo presidente. EFE

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