Ucrânia vê no aniversário da Normandia um espaço paralelo de negociação

  • Por Agencia EFE
  • 06/06/2014 15h39

Marta Garde.

Ouistreham (França), 6 jun (EFE).- O 70º aniversário do desembarque na Normandia disponibilizou nesta sexta-feira uma arena paralela de negociação sobre a crise ucraniana, na qual seus dois maiores protagonistas, o governante russo, Vladimir Putin, e o presidente eleito da Ucrânia, Petro Poroshenko, defenderam um cessar-fogo.

Sua chamada em favor do “fim urgente do derramamento de sangue no sudeste da Ucrânia e também das ações militares por parte de ambos os bandos”, revelou à imprensa um porta-voz do Kremlin em Moscou, encenou o avanço em um conflito agravado pela anexação russa da península ucraniana da Crimeia.

Foi um encontro de menos de 15 minutos de duração e anterior ao almoço junto aos 20 de chefes de Estado e de governo convidados à costa atlântica francesa, entre eles o presidente americano, Barack Obama; a chanceler alemã, Angela Merkel, e a rainha Elizabeth II da Inglaterra.

Obama e Putin, após ter evitado em Paris na véspera em um jogo de equilibrismo diplomático feito pelo Eliseu para evitar problemas, protagonizaram outra reunião informal, sua primeira desde a anexação e na qual defenderam também dar fim à violência e as ações militares.

A primeira a se reunir com Putin foi Merkel, que de Deauville pediu que assumisse a “grande responsabilidade” que seu país tem de avançar em direção à estabilização da Ucrânia e, especialmente, das regiões do leste nas quais lutam os separatistas pró-Moscou.

Essa série de reuniões sucessivas e a foto de família significaram uma imagem pontual de conciliação dentro dos atritos ocidentais com o Kremlin, que chega na véspera que Poroshenko seja investido no cargo.

O presidente francês, François Hollande, se tinha esforçado nas últimas semanas em exercer de mediador no conflito da Ucrânia e esse foi o motivo que convidasse no último momento a Poroshenko a estes atos.

Se da jornada podem se retirar essas aproximações, “neste 6 de junho serviu de algo”, disse Hollande à imprensa ao fim da cerimônia principal na praia de Ouistreham, onde há 70 anos aconteceu uma das primeiras batalhas do Dia D.

Durante o ato, o presidente e anfitrião da homenagem aos mortos nessa operação militar que mudou o rumo da Segunda Guerra Mundial havia lembrado que “a liberdade é um combate, não é uma evidência”, e ainda está ameaçada “em muitos lugares do mundo”.

A Europa, ressaltou, ainda tem “mais que um dever, tem a obrigação” de preservar a paz e de estar à altura dos ideais defendidos há 70 anos e do sacrifício ao qual entregaram suas vidas, mais de 6 mil pessoas, entre civis e militares, só no primeiro dia de intervenção.

Esses soldados e os sobreviventes receberam hoje reconhecimento expresso, que se ampliou ao Exército Vermelho, aos povos da antiga União Soviética por sua “contribuição decisiva” à vitória e aos próprios alemães, “vítimas, eles também, do nazismo”.

Seu discurso reuniu o sentimento das diversas cerimônias nacionais e bilaterais realizadas em vários cemitérios e em outros pontos do litoral normando, entre as quais teve um lugar destacado a efetuada em Colleville-sur-Mer, onde repousam 9.386 soldados perto da praia de Omaha.

Hollande e Obama – cercados no palco por veteranos da guerra, boa parte deles de mais de 90 anos – agradeceram pela ajuda um do outro, um pela libertação e o outro por ter cuidado de seus mortos, e ressaltaram a necessidade de não esquecer as lições dessa luta.

“A chamada dos Estados Unidos, nosso apelo à liberdade, nossa convocação à igualdade e à dignidade inerente a cada ser humano está escrito com sangue nestas praias e perdurará pela eternidade”, disse Obama.

Por sua vez, Hollande assegurou que a “França nunca esquecerá o que deve a esses soldados, o que deve aos Estados Unidos”, nem a solidariedade demonstrada entre os dois Estados, que repousa, concluiu, “sobre um sonho” de liberdade. EFE

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