Um ano depois do tufão “Haiyan”, filipinos ainda guardam feridas

  • Por Agencia EFE
  • 07/11/2014 11h00
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Helen Cook.

Tacloban (Filipinas), 7 nov (EFE).- Um ano depois da passagem do tufão “Haiyan”, os filipinos que viveram uma das piores tempestades da história tentam voltar à normalidade, mas muitos ainda arrastam traumas psicológicos sobre os quais se negam a falar.

“Ninguém quer dizer que está mal e todos insistem que estão bem, mas no fundo a questão é que não podem se expressar”, disse à Agência Efe Rey Lauzon, de 54 anos, em frente às milhares de cruzes brancas colocadas recentemente em um dos cemitérios de Tacloban em memória das 2.700 vítimas do tufão.

“Nós somos assim, escondemos tudo atrás de sorrisos e brincadeiras, mas na realidade precisamos de ajuda para expressar nossos sentimentos”, acrescentou Lauzon, que perdeu seu trabalho em um colégio após a catástrofe e que acompanha sua mulher que vai deixar flores em homenagem ao pai, vítima do desastre.

Entre as finas cruzes de madeira, onde os familiares das vítimas escrevem o nome dos falecidos com um simples marcador de texto, dezenas de filipinos acendem velas e rezam por seus entes queridos com gesto afligido, mas muito poucos admitem estar passando por um mau momento.

“Não falamos entre nós da tragédia. Para que? Estamos bem e, além disso, não serviria de nada falar”, declarou Conchita Gallardo, de 43 anos, que perdeu os pais.

Segundo números da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 800 mil filipinos das áreas afetadas pelo “Haiyan” sofreram diferentes problemas mentais neste último ano, sendo que cerca de 80 mil precisam de tratamento médico e apoio psicológico.

No entanto, o sistema de atendimento psicológico das Filipinas, um país com 100 milhões de habitantes que sofrem constantes ataques da natureza, é praticamente inexistente, e conta apenas com 490 psiquiatras.

Essa é uma das razões pelas quais o atendimento ao estado emocional das vítimas foi nulo por parte do governo das Filipinas depois da tragédia, que deixou mais de oito mil mortos e desaparecidos.

“Em Tacloban podemos dizer que não há nenhum especialista em apoio psicossocial”, afirmou Nuria Díez, psicóloga da organização não-governamental Action Against Hunger (Ação Contra a Fome).

Nuria contou como foi extremamente complicado encontrar profissionais filipinos que pudessem ajudar em seus projetos de apoio psicológico a mulheres e crianças quando a Ação Contra a Fome entrou em Tacloban poucos dias depois do desastre.

“Antes do tufão, só tínhamos duas pessoas trabalhando com saúde mental em Tacloban”, confessou o chefe do Departamento de Saúde da cidade, Javier Opinión.

Por isso, um dos objetivos da ONG na região é tentar que o sistema sanitário das Filipinas desenvolva o departamento de saúde mental para que possa ser útil nos próximos desastres.

“Estamos tentando incorporar serviços psicossociais aos centros médicos primários de Tacloban para melhorar a situação do sistema de saúde mental”, explicou Nuria, encarregada de um projeto da Ação Contra a Fome que prestou apoio emocional de forma contínua a, aproximadamente, cinco mil mulheres e seus filhos na província de Leyte.

Para a voluntária, os filipinos são reticentes a admitir problemas mentais porque “em sua cultura não é bem-visto expressar sentimentos negativos”.

“Não falar das coisas pode ser positivo, porque, em parte, os ajuda a seguir em frente e que tudo melhore muito rápido, mas ao mesmo tempo as emoções negativas ficam guardadas, e isso não ajuda”, esclareceu Nuria.

No entanto, segundo ela, os filipinos estão começando a mudar a percepção da ajuda psicológica.

“O governo está muito aberto a mudar porque está vendo que após uma tragédia assim, o importante é que se receba este tipo de ajuda. Pelo menos estas tragédias servem para mudar um sistema que antes não funcionava”, opinou a psicóloga. EFE

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