Vera: Ao criar crise com PSL, Bolsonaro dá tiro no pé das reformas
Ao criar mais uma polêmica em torno de sua saída ou não do PSL, o presidente Jair Bolsonaro coloca em xeque tanto a aprovação da reforma da Previdência, que está em fase final de tramitação no Senado Federal, como o envio de novas propostas, a exemplo da reforma administrativa, que deve chegar ao Congresso Nacional antes do final deste ano.
Isso porque, ao demonstrar insatisfação com a sigla, ele já produziu uma racha no partido, entre os mais bolsonaristas e os mais ligados ao PSL. Enquanto seus apoiadores já se movimentam para ir para utras legendas, os parlamentares mais chegados à sigla já começaram a ser voltar contra o presidente e seus filhos. O líder do PSL na Câmara dos Deputados, por exemplo, já ameaça tirar Eduardo Bolsonaro da comissão re Relações Exteriores, da qual é presidente.
Além disso, já há o início de uma briga entre apoiadores de Bolsonaro e do partido pelo dinheiro do fundo partidário que, na teoria e de acordo com a lei eleitoral de fidelidade partidária, deverá ficar com a legenda de Luciano Bivar mesmo no caso de saída do presidente. O problema é que os bolsonaristas saem que esses recursos foram angariados, em maior parte, justamente pela entrada de Bolsonaro no partido: foi ele quem fez com que vários candidatos entrassem no PSL e fossem eleitos na esteira de seu bolsonarismo, fazendo a sigla ter a segunda maior bancada eleita em 2018.
Para além do dinheiro, há, também, o medo de que os aliados percam seus mandatos por conta da infidelidade partidária, e criar um novo partido ou fundir legendas, que seria um caminho anteriormente, não é mais possível devido a uma recente reforma eleitoral. Agora, o destino de seus apoiadores também está em jogo.
Entre os motivos da chamada “insatisfação” de Bolsonaro com o partido, a dita “estagnação” não é surpresa. Apesar de estar em constante ebulição interna e física, com diversos conflitos, do ponto de vista das ideias, isso não é um motivo. Os pensamentos da legenda nunca foram uma preocupação do presidente e nem de seus aliados ao escolher um partido e, quando foi escolhido o PSL, não houve amor. O próprio Bolsonaro disse, na época, que foi um “casamento de conveniência”.
Um possível incomodo com as investigações do “laranjal do PSL” também são estranhos já que, se o presidente estivesse realmente desconfortável com a situação, não estaria mantendo um dos principais acusados, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, no cargo.
Dito isso, a motivação da rixa fica mais no âmbito financeiro: o partido enricou com a chegada dos Bolsonaros e se tornou de minúsculo e medíocre para uma siga com mais de R$ 100 milhões ao ano em uma época de escassez de recursos para campanha. Tanto que juridicamente os bolsonaristas devem tentar levar pelo menos parte desses recursos com eles em uma eventual saída.
A estratégia de briga com o PSL é ‘kamikaze’ e pode ser resultado da necessidade de Bolsonaro de arrumar inimigos em todo o lugar. É na natureza do presidente e do Bolsonarismo estar em conflito permanente, em uma constante briga com inimigos reais ou imaginários, e agora o próprio partido virou um desses inimigos.
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