Vera: Bolsonaro prometeu nomeações técnicas, mas permite terraplanistas em cargos públicos
Apesar de ter sido eleito com a promessa de colocar apenas nomes técnicos em seu governo – pessoas com currículo e experiência nos cargos que ocupariam -, o presidente Jair Bolsonaro tem deixado passar muitas nomeações para cargos importantes, principalmente na área da Cultura. Ele também tinha, como uma de suas pautas, “desemparelhar” a Cultura que, segundo ele, era um local “tomado pela esquerda”, mas as mudanças que está promovendo não levam a lugar nenhum.
Com uma gama de nomes já questionáveis, como o do diretor-geral da Funarte, o dramaturgo Roberto Alvim – que ofendeu a atriz Fernanda Montenegro com palavras de baixíssimo escalão – e o novo chefe da Fundação Cultural Palmares, o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo – que defendeu o fim do movimento negro e afirmou que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” – a novidade agora é o novo presidente da Funarte, o maestro e youtuber Dante Mantovani.
Além de não terem nenhuma afinidade com os temas que vão comandar – essas pessoas não tem histórico nenhum de gestão cultural ou de afinidades com os temas -, o novo time mostra que é partidário de teses amalucadas. Mantovani, por exemplo, em muitos de seus vídeos, afirma com vigor que a Terra é plana. Em outro, liga o rock ao satanismo, e diz que Woodstock foi um instrumento da União Soviética. Ele também ligou nomes como Legião Urbana e Gabriel, O Pensador, com o analfabetismo.
O que observamos portanto, é que algo totalmente maluco, uma teoria da conspiração, foi levada ao serviço público. Falas paranoicas, obscurantistas e regadas de fake news são tomadas como algo próximo da direita e do conservadorismo – mas não são. Exstem provas e são cientificamente comprovados dados como a esfericidade da terra – o próprio ministro da Ciência e Tecnologia de Bolsonaro, Marcos Pontes, é astronauta e já viu a Terra com os próprios olhos.
Querer uma polícia cultural mais voltada para a direita e para o liberalismo é possível, utilizando meios para que ela se sustente por conta própria, que não haja favorecimento de panelinhas… Tudo isso é possível, viável e defensável do ponto de vista de uma política de centro-direita, mas não é isso que se está fazendo. Pelo contrário, estão colocando seguidores de Olavo de Carvalho no lugar, retrocedendo anos em termos de razoabilidade do debate público.
Ninguém deveria estar discutindo, em 2019, se a Terra é redonda. Se eu sou alguém de RH e, em uma entrevista, o candidato diz que a Terra é plana, ele é imediatamente cortado. O mesmo deveria valer para o setor público, que atualmente está subordinado a pessoas revanchistas, obscurantistas e que não refletem, em nada, o pensamento conservador e liberal. Pelo contrário: apenas trazem a teoria da conspiração pura e simples e o esgoto da internet aos altos escalões.
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