A visão de Putin é atroz e não há alternativa

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 24/07/2017 05h54 - Atualizado em 24/07/2017 13h55
FET12 MOSCÚ (RUSIA), 10/02/2017.- El presidente ruso Vladímir Putin durante su encuentro con el presidente esloveno, Borut Pahor (no en la imagen) celebrado en el Kremlin en Moscú, Rusia hoy 10 de febrero de 2017. Putin, aseguró hoy que espera un gradual restablecimiento de las relaciones con Estados Unidos y la Unión Europea (UE). EFE/Alexander Zemlianichenko **POOL** EFE/Alexander Zemlianichenko Difícil imaginar a Rússia sem Putin tão cedo, salvo algum cataclisma político ou intempérie pessoal

Vladimir Putin é para sempre. Nenhuma surpresa nesta constatação. Difícil imaginar a Rússia sem ele tão cedo, salvo algum cataclisma político ou intempérie pessoal. Não existe democracia na Rússia, embora não seja hoje um regime totalitário como na época do comunismo soviético.

O próprio Putin tocou no assunto do para todo e sempre na sexta-feira, ao dizer que tem “muitas” opções na pós-presidência, mas ele não decidiu se irá no encalço delas. Tudo melancólico, como um clássico romance russo.

E tem mais, mais melancólico ainda. Não existe uma inspirada visão alternativa a este nacionalismo muscular, revanchista, insidioso e mentiroso que é o regime Putin.

É verdade que nos últimos meses tivemos corajosas e quixotescas manifestações de rua contra o arbítrio e a corrupção do regime Putin, sob a batuta do carismático Alexei Navalny, um costumeiro inquilino do sistema carcerário.

Mas foi um analista russo que acompanho, chamado Leonid Bershidsky, que relatou que nem mesmo os oponentes mais veementes podem oferecer uma visão alternativa à de Putin. Na semana passada, Navalny travou um debate com uma liderança ultranacionalista. Ex-oficial do Exército, Igor Girkin, mais conhecido pelo nome de guerra Strelkov, se meteu na agressão da Ucrânia como “voluntário” e chegou a ser ministro da Defesa do enclave separatista pró-russo.

Tornou-se inconveniente para o Kremlin e foi enxotado da Ucrânia, para cujo governo ele é um criminoso de guerra. Strelkov está em Moscou, onde recebe aposentadoria militar e decepcionado com o que considera comedimento nacionalista de Putin.

Strelkov desafiou Navalny para um debate, que tem sido uma sensação viral na Internet, confirmando o desejo popular por um duelo competitivo e não os orquestrados e looongos espetáculos de Putin papeando com o povo.

Navalny, no entanto, não pressionou por uma Rússia mais moderna e Strelkov, para dar uma medida, é um assumido monarquista. Ambos no debate jogaram com as cartas de Putin. É verdade que Navalny é incansável para denunciar a corrupção nas entranhas do regime Putin, enquanto para Strelkov o maior inimigo é o Ocidente.

Navalny ainda vislumbra um glorioso futuro para uma toda-poderosa Rússia e não questiona a anexação da Crimeia durante a invasão da Ucrânia em 2014. Para ele, o problema da agressão foi o custo e não a violação da soberania de um país.

Navalny sonha com uma economia menos corrupta e Strelkov com uma sociedade mais militarizada e sombria. Não podemos ter saudades da era Yeltsin, o predecessor e mentor de Putin. Foram justamente aqueles dias caóticos e corruptos que levaram ao sistema vigente de ordem e corrupção institucionalizada.

No entanto, Yeltsin ao menos tinha uma visão de Rússia mais liberal, mais próxima da Europa e despojada da carcaça imperial. É uma prova do sucesso de Putin que sequer alguém como Navalny visualiza um futuro mais europeu para a Rússia.

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