Zarif, o leal e popular herói nuclear iraniano

  • Por Agencia EFE
  • 14/07/2015 17h08

Álvaro Mellizo.

Teerã, 14 jul (EFE).- O histórico acordo atômico entre Irã e o Grupo 5+1, uma autêntica revolução na geopolítica mundial, transformou Mohamad Javad Zarif no grande “herói” da República Islâmica, um homem leal e disposto ao diálogo, que agora se projeta como uma figura determinante para a política iraniana no futuro próximo.

O ministro de Relações Exteriores do Irã e principal negociador nuclear do país sai de Viena com um triunfo sem precedentes para um diplomata, com uma imagem ótima para a opinião pública iraniana e internacional e com um mais que promissor caminho pela frente.

Zarif, nascido em Teerã em 1960, é um homem amável, profundamente religioso, sorridente, bom de papo e eficiente que conquistou respeito, quando não a admiração, de grande parte dos iranianos, que o veem como um salvador e uma figura ideal para postos de maior responsabilidade, uma opção vista com bons olhos também pelos setores moderados-reformistas, espectro político a que pertence.

O ministro já foi eleito em março o homem do ano pela imprensa iraniana, mesmo antes de conseguir o acordo nuclear.

Já então, as pessoas na rua o comparavam com Mohamad Mosadegh, o adorado primeiro-ministro que lutou pela nacionalização da indústria do petróleo e cujo governo foi derrubado em 1953 em um golpe orquestrado pela CIA – por isso agora, com este indubitável sucesso em seu currículo, é difícil prever onde fica o limite para este diplomata.

Seus únicos inimigos, os mais duros e recalcitrantes elementos do regime, adversários de qualquer tipo de aproximação com o Ocidente, quase não têm argumentos contra ele: Zarif defendeu com sucesso as linhas vermelhas da República Islâmica na negociação nuclear e o próprio líder supremo, Ali Khamenei, reiterou nas últimas semanas seu respeito e respaldo a sua gestão.

Isso porque Zarif é um homem do regime do princípio ao fim, defensor da Revolução Islâmica do aiatolá Ruhollah Khomeini desde o primeiro momento, só que consciente que a situação interna do Irã deve mudar para poder preservar suas conquistas.

Desde que assumiu há quase dois anos a pasta de Relações Exteriores, Zarif fez uma completa lavagem da imagem da República Islâmica no exterior, muito manchada após os oito anos de governo de Mahmoud Ahmadinejad.

Não só destravou as negociações nucleares e conseguiu levá-las a um bom termo, mas com seu sorriso eterno, seu tom suave e seu rosto de simpático professor universitário ganhou a confiança de seus interlocutores internacionais.

Entre outros gestos, Zarif chegou a considerar o Holocausto do povo judeu um “crime odioso”, toda uma transformação em relação aos seus antecessores no cargo.

Precisamente, durante as negociações destacou sua boa sintonia com o secretário de Estado americano, John Kerry, com quem, apesar da infinidade de diferenças políticas, soube lavrar uma excelente relação de trabalho.

Zarif se formou nos Estados Unidos, onde fez o ensino médio, se graduou na Universidade de San Francisco e se doutorou na Universidade de Denver.

Seus dois filhos nasceram nos EUA e durante muitos anos viveu em Nova York, onde trabalhou como embaixador do Irã nas Nações Unidas e onde ganhou uma reputação de homem próximo e afastado das formais práticas diplomáticas.

Seu conhecimento cultural, do direito e do idioma americano é arrasador, como ficou patente nos debates que teve com alguns senadores dos Estados Unidos contrários a um acordo nuclear.

Zarif, que ostenta mais títulos universitários americanos do que muitos dos legisladores dos EUA, não hesitou em ocasionalmente dar lições de direito constitucional americano e de relações internacionais a “falcões” do Senado em Washington, deixando-os sem argumentos. EFE

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