Exclusivo: Pai de hacker parceiro de Delgatti é do Exército e especialista em TI
Thiago Eliezer, vulgo Chiclete, foi condenado a 18 anos e 11 meses de prisão por associação criminosa e invasão de celulares; para PF, ele quem tinha “maior expertise em crimes cibernéticos”
O Exército abriga no Comando Logístico, em Brasília, o capitão reformado Eliezer Francisco dos Santos, pai de Thiago Eliezer Martins Santos, o chiclete, parceiro de Walter Delgatti na invasão dos celulares de autoridades da Lava Jato e também no acesso ilegal ao sistema do Conselho Nacional de Justiça. Chiclete foi condenado a 18 anos e 11 meses de prisão no âmbito da Operação Spoofing, na qual chegou a ser preso. No mês passado, ele também foi alvo de mandados de busca e apreensão, cumpridos pela Polícia Federal por determinação de Alexandre de Moraes no caso que envolve a deputada Carla Zambelli. Nesta investigação, Delgatti afirmou que Thiago Eliezer teve acesso à senha dos sistemas do CNJ e teria forjado 10 alvarás de soltura.
Seu pai, cujo nome de guerra é Capitão Eliezer, trabalha oficialmente como Assessor Técnico de Comunicação Social, mas é formado em computação e já serviu no Centro Integrado de Telemática do Exército (CITEX) e no Centro de Pagamento do Exército (CPEX). No Comando Logístico, ele esteve subordinado ao general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, atual comandante de Operações Terrestres. Foi Theophilo quem o contratou como Prestador de Tarefa por Tempo Certo, regime usado para contratação de militares reformados. Antes, passou pelo Centro de Pagamento. Essa nomeação se deu em 2018 pelas mãos do general Marcos Antonio Amaro dos Santos, que substituiu Gonçalves Dias na chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Pai e filho também são sócios num restaurante num shopping de Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. Segundo a Polícia Federal, o estabelecimento comercial foi usado para receber pelo menos R$ 172 mil do esquema de fraudes capitaneado por Walter Delgatti. Para a PF, do grupo que invadiu celulares de integrantes da Lava Jato, Thiago Eliezer “era o membro com maior expertise em crimes cibernéticos” e o que mais teria movimentado recursos ilícitos — mais de R$ 1,2 milhão entre 01/01/2018 e 17/07/2019 –, sendo R$ 940 mil em sua conta pessoal e R$ 297 mil na conta do restaurante que tem em sociedade com o pai capitão.
Questionado sobre o vínculo familiar, o Centro de Comunicação do Exército informou que desconhecia a relação e que até agora não há nada que desabone a atuação do militar. De fato, o simples parentesco não quer dizer nada, mas chama a atenção que o próprio Capitão Eliezer não tenha comunicado o fato à cúpula do Exército em 2019, quando veio à tona o caso da Vaza Jato e seu filho acabou preso, ou mesmo recentemente com a investigação sobre a invasão do sistema do CNJ.
Ressalta-se que Delgatti tem dito que, após ser levado por Zambelli a Jair Bolsonaro, esteve no Ministério da Defesa, onde teria tratado do relatório sobre a segurança das urnas eletrônicas. À CPMI do 8 de janeiro, o governo afirmou não ter registro da entrada do criminoso, pois as imagens do circuito interno são sobrepostas por outras a cada 30 dias — mesma explicação dada pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Integrantes do colegiado agora estão curiosos para saber se há registro de entrada do próprio Thiago Eliezer ou mesmo do pai.
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