PF: em mensagens, Marcos do Val mostra caráter ambíguo e uso de autoridades para angariar prestígio pessoal
Trata-se de um resumo perfeito do comportamento desse personagem já folclórico da política brasileira em tempos tão estranhos; parafraseando o próprio Jair Bolsonaro, obrigado a depor hoje na PF por causa da atuação sui generis de Do Val, parece “coisa de maluco”
Relatório técnico da Polícia Federal sobre as mensagens extraídas do celular de Marcos do Val sugere “atuação de caráter absolutamente ambíguo” do senador, “que parecia valer-se de prints de conversas com as mais altas autoridades da República para, colocando-as umas contra as outras, angariar prestígio pessoal e político”. Trata-se de um resumo perfeito do comportamento desse personagem já folclórico da política brasileira em tempos tão estranhos. Parafraseando o próprio Jair Bolsonaro, obrigado a depor hoje na PF por causa da atuação sui generis de Do Val, parece “coisa de maluco”. O senador do Espírito Santo, que deve ter razões para não gostar de Magno Malta, fez dobradinha com Daniel Silveira, outra figuraça, no esforço conjunto de entrar para a história — pela porta dos fundos.
Segundo o mesmo relatório, assinado pelo agente federal Daniel Dutra Araújo, as investigações mostraram até agora apenas que Silveira teria “cooptado” Do Val para o seu plano de gravar secretamente Alexandre de Moraes, provavelmente na tentativa de usar alguma declaração comprometedora sobre o processo eleitoral para justificar a prisão do ministro e a anulação da vitória de Lula. Coisa de maluco. Não há uma linha, porém, que sugira a participação de Bolsonaro na trama. “A partir das trocas de mensagens analisadas, não foi possível confirmar o teor da conversa dessa reunião; não há mensagens trocadas entre Do Val e Jair Bolsonaro acerca de quaisquer detalhes da tal ‘missão’. Todos os detalhes eram expostos apenas por Daniel Silveira”, conclui o outro Daniel, agente da PF.
O spin-off ocorre com o senador procurando o próprio Moraes para denunciar todo o enredo golpista e se colocar à disposição para salvar o Brasil… com ajuda da CIA. “Devido a outra função que exerço, tive que reportar para a inteligência americana”, escreve Do Val a Silveira, numa das mensagens. Nesse ponto, o agente da PF diz ter até encontrado “contatos com números americanos (DDI +1) no celular do senador”, mas nenhum diálogo de WhatsApp que se referisse ao “compartilhamento da ‘missão’ com qualquer contato”. “É possível que Do Val tenha dito tal afirmação apenas como um ‘blefe’.” No dia seguinte, o senador que ostenta broche da Swatt e calendário da Abin envia mensagem para Silveira declinando da ‘missão’. Coisa de maluco.
Se a perícia no celular não deu resultado, talvez a PF tenha mais sorte com um laudo psiquiátrico.
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