Seja qual for a relação com hacker, destino de Zambelli é o Conselho de Ética

Deputada federal, em pleno exercício do mandato, não viu problema em estabelecer relação com um personagem com longa ficha de antecedentes criminais, incluindo dezenas de golpes de estelionato

  • Por Claudio Dantas
  • 02/08/2023 16h32 - Atualizado em 02/08/2023 16h54
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MATEUS BONOMI/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO Carla Zambelli na coletiva Carla Zambelli caminha para entrevista coletiva em que falou sobre Walter Delgatti

Carla Zambelli disse que nunca pediu a Walter Delgatti para invadir urnas eletrônicas, o telefone de Alexandre de Moraes ou mesmo o sistema de informática do CNJ, mas sua versão para o pagamento de R$ 13,5 mil ao hacker é frágil. Diz que queria conectar suas redes sociais ao site e instalar um firewall, serviços que nunca foram prestados — e que poderia ser feitos por qualquer técnico de informática. A deputada alega que não cobrou de volta o dinheiro por pena, já que Vermelho estaria passando por “dificuldades financeiras” e que lhe pareceu uma “boa pessoa”. A Polícia Federal se encarregará de checar a veracidade das informações prestadas pela parlamentar, mas isso pouco importa agora.

Fato incontornável é que a deputada federal, em pleno exercício do mandato, não viu problema em estabelecer relação com um personagem com longa ficha de antecedentes criminais, incluindo dezenas de golpes de estelionato virtual, por meio dos quais obtinha senha de contas bancárias e lesava brasileiros em geral. Delgatti só virou personagem nacional ao protagonizar amplo esquema de hackeamento que violou sigilos telefônicos de centenas de autoridades, entre procuradores, juízes, desembargadores, ministros de tribunais superiores, além de empresários, jornalistas e artistas.

Foi alçado pela esquerda à condição de herói ao municiar o jornalista Glenn Greenwald com imenso arquivo de diálogos de integrantes da Lava Jato, usado de forma seletiva para impulsionar a narrativa contra a maior operação anticorrupção da história, viabilizando a anulação da condenação de Lula e de tantos outros políticos. Preso na Operação Spoofing, aguardava julgamento em liberdade condicional quando Zambelli o procurou no ano passado. A deputada ainda levou o criminoso para audiência com Jair Bolsonaro, então presidente da República, como espécie de consultor cibernético, alguém capaz de apontar supostas vulnerabilidades na urna eletrônica.

Seja qual for o desdobramento da investigação da PF, Zambelli deve ser levada antes ao Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. 

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