Sem farda, mas coronel golpista

Jean Lawand apresenta-se sem farda na CPMI do 8 de janeiro, aconselhado por superiores que temiam ver o oficial sendo preso ao vivo por ordem dos parlamentares; a preocupação com a imagem do Exército é óbvia, mas tardia

  • Por Claudio Dantas
  • 27/06/2023 14h59 - Atualizado em 27/06/2023 15h03
Edilson Rodrigues/Agência Senado coronel do Exército, Jean Lawand Junior - em pronunciamento. CPMI do 8 de Janeiro ouviu nesta terça o coronel do Exército que aparece em troca de mensagens defendendo uma intervenção militar após as eleições de 2022

O coronel Jean Lawand, flagrado em conversas em tom golpista, apresenta-se sem farda na CPMI do 8 de janeiro, aconselhado por superiores que temiam ver o oficial sendo preso ao vivo por ordem dos parlamentares. A preocupação com a imagem do Exército é óbvia, mas tardia. Seus generais deveriam ter resistido ao efeito gravitacional exercido pelo governo de Jair Bolsonaro; poderiam ter atuado de forma contundente contra os acampamentos de bolsonaristas em frente a quartéis em todo o país, e até dissuadido muitos manifestantes a apoiar qualquer aventura autoritária — quem sabe assegurariam a proteção das sedes dos Três Poderes em vez de ficarem à espera de um inominável decreto de GLO?!

Para que isso acontecesse, porém, teria sido necessário antes abolir a ideia de que o militar integra uma casta especial responsável por libertar o povo do jugo de uma elite corrupta e degenerada — como se não a integrasse. É possível ver até hoje, em publicações e manifestações oficiais, vestígios de um pensamento que remonta ao Primeiro Reinado, com a defesa de um Exército ativo na solução de crises e protagonista de eventos que moldam a história política do país. Essa doutrinação começa ainda na formação dos cadetes e alcança seu auge na Escola de Comando e Estado Maior, e influenciam as promoções ao generalato.

A cooptação de militares por agentes políticos, por sua vez, ocorre cedo e à luz do dia, pavimentando o sprint final da carreira, criando um ciclo vicioso. Beneficia-se o apadrinhamento, o alinhamento partidário, em detrimento da visão profissional. Sem uma mudança interna profunda, torna-se impossível esperar Forças Armadas modernas e ‘técnicas’, subordinadas ao poder civil e dedicadas unicamente à evolução da doutrina militar e à sua aplicação na eventualidade de conflitos armados. Como diz o provérbio, a humildade antecede a honra.

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