Dislexia: conheça os sintomas, as causas e os tratamentos

Transtorno no desenvolvimento cerebral pode afetar de forma significativa a vida profissional, acadêmica e pessoal

  • Por EdiCase
  • 28/08/2023 11h30 - Atualizado em 28/08/2023 11h48
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A dislexia prejudica o conhecimento e a oralidade do indivíduo A dislexia prejudica o conhecimento e a oralidade do indivíduo Imagem: Pixel-Shot | Shutterstock

A dislexia é um transtorno no desenvolvimento cerebral que afeta a leitura, a escrita e a oralidade. Segundo dados da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), o distúrbio pode ser encontrado entre 5 e 17% dos alunos nas salas de aula ao redor do mundo. 

“É importante destacar que o transtorno não está relacionado à inteligência, pois indivíduos com dislexia podem ser igualmente inteligentes e capazes em outras áreas”, comenta Ana Cristina Oliveira, psicóloga, educadora e psicopedagoga da Faculdade de Educação Paulistana (FAEP). 

Principais sintomas da dislexia 

Os sintomas do transtorno variam de pessoa para pessoa, podendo afetar uma ou mais habilidades de aprendizado. De acordo com Rosângela Batista, neuropsicóloga e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, os principais sinais são:  

Oralidade 

  • Atrasos no desenvolvimento da fala; 
  • Erros de pronúncia; 
  • Dificuldades para nomear letras, números e cores; 
  • Dificuldades em pronunciar frases que envolvem rimas; 
  • Problemas para se expressar de forma clara. 

Leitura 

  • Dificuldades para decodificar palavras; 
  • Erros no reconhecimento de palavras; 
  • Leitura oral lenta ou incorreta; 
  • Vocabulário reduzido; 
  • Compreensão de texto prejudicada; 

Escrita 

  • Erros ortográficos; 
  • Omissões, substituições e inversão de letras ou sílabas; 
  • Dificuldades na produção textual. 

“É importante observar que a dislexia não é apenas uma questão de dificuldade temporária na aprendizagem da oralidade, leitura e escrita. É uma condição persistente que afeta a maneira como o cérebro processa informações linguísticas”, complementa Ana Cristina Oliveira.  

Diagnóstico do transtorno  

A dislexia pode ser identificada por meio da descrição dos sintomas, além de testes específicos que devem ser respondidos por pais, professores ou pessoas próximas ao paciente. O processo em questão é geralmente realizado por uma equipe multiprofissional, “incluindo psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos e neurologistas. Cada profissional avalia aspectos específicos da dificuldade, resultando em um diagnóstico abrangente”, afirma Nadja Pinho, psicopedagoga e musicoterapeuta do núcleo infantojuvenil da Holiste Psiquiatria. 

Subtipos de dislexia  

A dislexia pode ser categorizada em diferentes subtipos, conforme explica Ana Cristina Oliveira: 

  • Dislexia fonológica ou fonêmica: dificuldades em decodificar palavras e reconhecer rimas; 
  • Dislexia superficial ou visual: obstáculos na leitura de palavras incomuns; 
  • Dislexia profunda ou lexical: dificuldades em compreender o significado das palavras lidas; 
  • Dislexia auditiva ou auditiva-verbal: dificuldades em discernir e discriminar sons da fala, podendo afetar a conexão entre a oralidade e leitura/escrita; 
  • Dislexia visual-motora: problemas na orientação espacial, como confundir letras ou trocar a ordem delas em uma frase; 
  • Dislexia secundária ou adquirida: surge como resultado de uma lesão cerebral após a aquisição inicial da leitura. Pode envolver diferentes tipos de dificuldades, dependendo da área do cérebro afetada. 
Ilustração de homem anotando pensamentos em bloco
A dislexia é causada por fatores genéticos e pode ter influência externa (Imagem: Red Vector | Shutterstock)

Causas da dislexia 

A dislexia tem como principal causa o fator genético. “Estudos mostram que esse distúrbio é causado por uma alteração cromossômica hereditária e que pode estar relacionada à produção excessiva de testosterona (hormônio sexual masculino, mas que também é presente em mulheres) da mãe durante a gestação”, detalha Luciana Inocêncio, psicóloga, psicanalista e especialista em Transtornos Graves das Psicoses. 

Ademais, segundo Ana Cristina Oliveira, alguns estudos apontam que o transtorno disléxico também pode ser influenciado por fatores ambientais (ambiente de aprendizado que não oferece apoio adequado à aquisição de leitura e escrita), condições pré-natais (exposição da mãe a toxinas ou outros problemas durante a gravidez) e anormalidades neurobiológicas (diferenças na atividade cerebral e na conectividade neural em pessoas com dislexia). 

Dislexia e outros transtornos 

Conforme esclarece a psicóloga Ana Cristina Oliveira, além dos sintomas característicos, a dislexia também pode estar associada a outras patologias. Como exemplos, pode-se citar distúrbios do sono, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), ansiedade e depressão.  

“É importante observar que essas associações não significam que a dislexia cause essas condições, mas sim que podem compartilhar alguns fatores de risco ou características em comum”, enfatiza a profissional. 

Consequências da dislexia

Quando não tratada corretamente, a dislexia pode trazer consequências para diferentes áreas da vida. Conforme detalha Ana Cristina Oliveira, no setor profissional, o distúrbio pode interferir na escolha da carreira, bem como no desempenho e na comunicação corporativa. No campo escolar, pode afetar a atuação acadêmica de modo geral. Na vida pessoal, por sua vez, o transtorno pode impactar as relações sociais, a autoexpressão e o prazer nas atividades de lazer.  

Impactos da dislexia na saúde mental 

Duas questões que mais afetam a saúde mental dos indivíduos disléxicos são o preconceito e a desinformação por parte de terceiros. “Por falta de conhecimento acerca do transtorno, muita gente tem a ideia errônea de que a dislexia é falta de inteligência. A perpetuação desse estigma dificulta muito o tratamento e aumenta o conflito que os disléxicos enfrentam, gerando baixa autoestima, inseguranças e ansiedade”, esclarece a neuropsicóloga Rosângela Batista.  

Nadja Pinho destaca que indivíduos com dislexia podem desenvolver sentimentos de inadequação, baixa autoestima, ansiedade e frustração. Isso ocorre devido às dificuldades de aprendizado e à percepção de não acompanharem os colegas.

Fonoaudióloga realizando atendimento com criança. A menina está sentada com um urso de pelúcia no colo
Terapias com fonoaudiólogos contribuem para melhorar a fala e o entendimento sonoro (Imagem: Pixel-Shot | Shutterstock)

Tratamentos e benefícios 

A dislexia não tem cura, porém é tratável. “O tratamento envolve intervenções específicas, incluindo terapias com fonoaudiólogos para melhorar a identificação e decodificação de fonemas (menor unidade sonora), apoio psicopedagógico para desenvolver estratégias de aprendizado e suporte psicológico para lidar com questões emocionais”, revela Nadja Pinho. 

A psicóloga Luciana Inocêncio ressalta que os tratamentos devem ser iniciados após o diagnóstico e podem durar por toda a vida. Com isso, os sintomas disléxicos serão amenizados de maneira eficiente. 

Hábitos saudáveis também fazem a diferença 

Assim como os tratamentos, os hábitos de vida saudáveis também são importantes para o alívio dos sintomas disléxicos. Logo, a neuropsicóloga Rosângela Batista recomenda a prática de exercícios físicos, de cálculos matemáticos e de jogos e atividades que estimulem a leitura de figuras e palavras.  

Além disso, a psicóloga Ana Cristina Oliveira cita que outro hábito importante diz respeito às técnicas de organização, como fazer resumos e anotações. “Isso pode ajudar a estruturar informações e melhorar a retenção”, explica.  

Importância da rede de apoio 

Tão importante quanto os tratamentos e os hábitos de vida saudáveis é a rede de apoio. “Amigos e familiares desempenham um papel fundamental na vida de pessoas com dislexia. Eles podem oferecer compreensão, paciência e incentivo, bem como ajudar a criar estratégias de aprendizado e promover um ambiente em que os disléxicos se sintam valorizados e apoiados”, pontua a psicopedagoga Nadja Pinho. 

A psicóloga Ana Cristina Oliveira ressalta que, antes de tudo, é essencial que os colegas e parentes se informem sobre o transtorno, seus sintomas e consequências. “Quanto mais souber, melhor poderá oferecer apoio”, finaliza. 

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