Entenda como a ausência paterna impacta a vida emocional dos adultos
Psicóloga aponta como a falta de vínculo paterno pode trazer prejuízo para as relações no futuro
No segundo domingo do mês de agosto (13), é celebrado o “Dia dos Pais”. Com a chegada da comemoração, muitos brasileiros começam a refletir sobre o significado da paternidade, principalmente aqueles que cresceram sentindo a ausência paterna. Segundo dados da Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), cerca de 104.709 crianças foram registradas sem pai no Brasil, entre janeiro e julho de 2023; e, conforme estudos e especialistas, esse dado pode gerar preocupação no futuro. Isso porque a falta dos pais pode trazer consequências negativas, tanto no período infantil quanto na fase adulta.
Influência da ausência paterna nas relações afetivas
Para a psicóloga Ana Streit, um dos impactos é na forma como a pessoa se relaciona com os demais. “Ao não ter tido um pai, pode haver impactos na qualidade dos vínculos estabelecidos, como pessoas que se relacionam com superficialidade ou com muito medo de perder a outra. E esse medo pode aparecer de forma patológica, como o ciúme excessivo ou o controle”, comenta a profissional.
A ausência da figura paterna também acontece quando a criança tem um pai, mas ele não é presente. “Há muitos pais que são provedores, mas não são referência de afeto e de vínculo. Nesse caso, a criança pode aprender a naturalizar a ‘presença-ausente’, que é o pai presente fisicamente e ausente emocionalmente. Com isso, a criança leva esse modelo para as suas relações futuras. A superficialidade aparece na pobreza das relações, na frieza e na desconexão emocional. Isso pode prejudicar a saúde mental da criança durante o desenvolvimento dela e na sua fase adulta. Algumas vezes, o reflexo aparece na baixa autoestima do adulto, na insegurança e no medo da rejeição”, pontua a psicóloga.
Papel dos pais no desenvolvimento infantil
Ainda segundo a especialista, a importância de um pai é muito maior do que gerir uma família ou dar condições financeiras aos filhos. Ana Streit explica que a criança tem um aspecto no desenvolvimento chamado “onipotência”. Por consequência, ela acha que tudo acontece por conta dela. Se o pai abandonou, foi porque ela não foi digna ou não foi boa o suficiente. São aspectos que vão passear na imaginação da criança. Por isso, a psicóloga afirma: “Quem conviveu com a ausência de pai precisa reparentalizar e validar essa falta para que possa construir relações profundas e conectadas, apesar de não ter um pai”.
Vínculo afetivo com os pais favorece a autoestima
Por outro lado, de acordo com a especialista, a relação de qualidade e de vínculo seguro com o pai pode gerar impactos positivos para a vida toda. A criança se torna um adulto com autoestima positiva, consegue ter força para os desafios da vida e se torna capaz de desenvolver a resiliência.
“Ter uma relação de qualidade com o pai no início da vida faz a pessoa ter uma base sólida; essa primeira relação tem impacto fundamental. Se a criança teve outros cuidadores que a supriram de afeto, ela pode ter a falta do pai reparada, mas ainda assim sendo necessário ressignificar a falta deste e acomodá-la no seu mundo interno no decorrer da vida. É um trabalho que pode ser feito com ajuda de um terapeuta”, finaliza Ana Streit.
Por Consuelo Magalhães
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