Entenda por que as mulheres enfrentam os maiores índices de desemprego

Elas ainda precisam lutar mais para garantir o sustento de suas famílias e superar a falta de trabalho

  • Por EdiCase
  • 05/03/2024 11h00 - Atualizado em 05/03/2024 11h36
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Apesar da maior escolaridade, mulheres no Brasil enfrentam desigualdade salarial em relação aos homens Apesar da maior escolaridade, mulheres no Brasil enfrentam desigualdade salarial em relação aos homens Imagem: insta_photos | Shutterstock

As mulheres são maioria na população brasileira, têm nível de escolaridade maior que os homens e assumiram a chefia de 51% dos lares brasileiros nos últimos dez anos. Porém, são elas também que enfrentam, ao lado das pessoas negras, o maior índice de desocupação no país, fechando 2023 com taxa acima da média nacional.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam um cenário que coloca as mulheres brasileiras em uma verdadeira corrida de obstáculos para conquistar seus espaços, reflexo da construção social que ainda as desfavorece.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) apontou que, no último trimestre de 2023, as mulheres registraram uma taxa de desemprego de 9,2%, enquanto os homens alcançaram o índice de 6%. Nem mesmo a maior escolaridade feminina – na população com 25 anos ou mais, 19,4% das mulheres tinham nível superior completo em 2019 e somente 15,1% dos homens tinham esta formação – tem sido capaz de equiparar o acesso aos postos de trabalho. Como extensão deste mesmo panorama, a desigualdade de renda no Brasil faz com que as mulheres recebam 26,2% menos que os homens.

“Não contrata mulher, ela vai engravidar”

Uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revelou que, no Brasil, 84,5% das pessoas têm ao menos um preconceito contra mulheres. O estudo mostrou ainda que 31% dos brasileiros acreditam que os homens têm mais direito ao trabalho do que as mulheres ou que eles fazem melhores negócios do que elas.

Para a orientadora de carreira Ellen Murray, os principais motivos que levam as mulheres a viverem a maior taxa de desemprego são, justamente, culturais. “Se você, mulher, é mãe, é questionada com quem deixa seu filho. Eu já ouvi: não contrata mulher porque se ela está casada, vai engravidar. ‘Não vou te contratar porque você é mãe, você vai procriar’. É assim, você pode trabalhar, mas vai ter um piso salarial menor”, diz.

Desafios no mundo profissional

A especialista afirma ainda que o estigma de associar o trabalho como algo “difícil demais” para a mulher que é mãe é a primeira barreira utilizada para não seguir com uma contratação. “É preciso enxergar que para a mulher sempre vai ser mais difícil, principalmente para a que tem filho, uma mãe solo. E é difícil porque a sociedade impõe que é, não porque ela vê assim. Eu sou mãe solo e para mim essa jornada [na carreira] é prazerosa, mas a sociedade impõe que é difícil’, aponta Ellen Murray.

A cultura permeada pelo machismo e patriarcado é um fator destacado pela profissional como agravante para o desenvolvimento profissional das mulheres. “O mercado de trabalho ainda é muito machista, com ambientes onde a mulher sofre abusos, às vezes em um tom de brincadeira, uma olhada, e isso faz com que nós deixemos a área profissional de lado para nos dedicarmos dentro de casa. Assim acabamos reproduzindo aquela visão antiga de que a mulher serve somente para o trabalho doméstico”, destaca a profissional.

Empresas devem entender seu papel na agenda da diversidade para mudar o cenário desfavorável às mulheres Imagem: Ground Picture | Shutterstock

Um valor menor

Como reflexo de uma sociedade que ainda privilegia os homens, Ellen Murray ressalta que a falta de oportunidades também dificulta o acesso das mulheres aos postos de trabalho. “A gente não tem as mesmas oportunidades, porque, para você ser vista como um homem executivo é visto, por exemplo, tem que vestir uma persona que não é sua e, por mais que você tenha os mesmos conhecimentos e as mesmas competências, é dado um valor menor”, diz a especialista.

Para mudar o cenário que desfavorece as mulheres, Ellen Murray defende que é preciso que as empresas entendam seu papel e seu lugar na agenda da diversidade. “Temos de entender o perfil de empresa que nós somos para que tudo flua e tenhamos colaboradores que compartilhem da mesma visão que a nossa. Conhecendo a cultura da empresa e tendo paixão pela diversidade, é possível criar ações afirmativas considerando a história das pessoas”, conclui a orientadora de carreira.

Estratégias de economia doméstica

Diante do paradoxo que impacta as brasileiras – são a maioria entre chefes de família, mas têm a maior taxa de desemprego e menor renda –, com a inflação do país acelerando no mês de fevereiro – alta de 0,78%, mais que o dobro do que foi verificado em janeiro –, planos de saúde com previsão de reajustes de até 25% e a compra do mercado mais cara, em razão da alta nos preços do arroz, feijão e itens básicos na mesa do brasileiro, a conta não fecha para a mulher que chefia seu lar. 

“Pensar estratégias de economia doméstica para que essas mulheres consigam prover e cuidar de suas famílias é muito mais do que ‘fazer negócio’, é ser humano, buscando meios para amenizar e reparar uma situação que é, desde sempre, desigual”, afirma Mariana Rangel, diretora de marketing do Cartão de TODOS.

Elas são potência

Líderes sobrecarregadas na economia do cuidado, as mulheres são responsáveis por 65% do trabalho doméstico e de cuidado com seus dependentes. Este trabalho invisível, se contabilizado, subiria o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 8,5%, de acordo com pesquisa do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Elas são indispensáveis e se destacam em casa e no mercado de trabalho, potências que movimentam a economia do país.

Vislumbrando outra realidade, Ellen Murray acredita que é possível romper com o círculo cultural vicioso que há tanto tempo – e desde sempre – silencia as mulheres. “Podemos enxergar um lado positivo: estamos nos posicionando cada vez mais e isso é muito importante. Então eu torço e acredito muito –porque se eu não acreditasse, acho que não trabalharia mais nessa área [de recrutamento e pessoas e cultura] – que, daqui há uns cinco ou seis anos, a gente não vai ter ainda esse ambiente de igualdade, porque é uma questão social e cultural e nós precisamos romper com tudo isso, mas vamos conseguir nos desenvolver, sim”, afirma.

A especialista acrescenta ainda que “não fomos criadas e preparadas para o mercado de trabalho, mas já conseguimos romper com isso, porque a criação da geração de hoje é totalmente diferente, coisas que nós passávamos, essa geração não precisa mais passar e ainda bem”.

Para Mariana Rangel, o desejo para este 8 de março é que cada mulher conquiste um presente e futuro que impulsione sua potência. “Neste Dia da Mulher, em meio a obstáculos e desafios, o objetivo é poder construir vivências mais justas, para que nossa capacidade, nosso preparo e nossa atuação sejam reconhecidos e abram espaço para novas oportunidades. Conquistamos muito, mas podemos e vamos conquistar ainda mais”, afirma.

Por Nayara Campos da Silva

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