Filme “Folhas de Outono” quebra a ilusão das histórias de romance clichê
Vencedor em Cannes pelo Prêmio do Júri, longa-metragem estreia nos cinemas em 30 de novembro
Em meio a uma estética de iluminação e arte que remete aos movimentos do cinema do século passado, Aki Kaurismaki quebra a ilusão da história de romance com fatos do mundo real dos dias de hoje, desencontros e a falta de vontade de mudar pelo outro. Longa-metragem de 2023, a obra mais recente do finlandês Kaurismäki foi vencedora em Cannes pelo Prêmio do Júri e pelo FIPRESCI deste ano.
O filme retrata a história de Ansa e Holappa, finlandeses que se encontram em um aleatório bar de karaokê de Helsinque por acaso, mas se desencontram de diversas maneiras quando querem – seja física ou emocionalmente.
Estética do filme
A obra, com lançamento oficial marcado para 30 de novembro, apresenta estética de luzes diretas e teatrais, além de cores fortes e figurinos não tão modernos, que nos fazem sentir que entramos em uma amostra de filmes dos anos 80, ou antes – como romances de Almodóvar ou Godard. A ilusão, porém, se quebra em momentos como os que apresentam a figura do rádio, que parece pegar um sinal de fora da obra ao trazer notícias da guerra da Ucrânia.
O rádio e o medo das mudanças
Assim como o personagem que se recusa a mudar sua natureza para agradar sua parceira, pessoas tentam ignorar o rádio e mostram a intransigência do diretor, que parece querer representar a teimosia que vem com a necessidade de aceitar que o mundo mudou.
Tudo retrata o medo de passar por essa transição: as músicas (e o título) remetem ao outono, enquanto a protagonista do casal utiliza cores quentes e o homem, frias, ao mesmo tempo em que ambos tentam encontrar um meio-termo, ou simplesmente aceitar que não são feitos um para o outro.
Reflexão sobre as transformações do cinema
As músicas falam de “não aceitar o caloroso afeto daquele que só recebeu um amor frio”, remetendo ao protagonista que faz de tudo para afastar a mulher, que ele não consegue negar que tem interesse – como o intelectual do cinema antigo, que tenta deixar suas disparidades com maior ênfase possível em relação ao contemporâneo, mas que só percebe seu valor quando quase acaba por morrer.
Assim, Kaurismäki reflete maravilhosamente sobre o desencontro de ideias: na sua área, o cinema, e como é ver a arte em que o diretor se encontrou anos atrás envelhecer e mudar de forma assíncrona a ele – ou em um complexo romance em que ambas as partes precisam não apenas desejar, mas também se adaptar uma à outra.
Mesmo com temas tão diferentes e complexos, tudo parece ser o mesmo na fluidez com que as coisas acontecem pelas ruas de Helsinque.
Por Antonio Pedro Carqueijó
Estudante de Cinema na FAAP/SP
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