Veja como o Método 300 pode auxiliar estudantes no processo de aprendizagem
No Método 300, os alunos se auxiliam mutuamente para uma aprendizagem mais significativa
O Método 300 foi desenvolvido por Ricardo Fragelli, um engenheiro mecânico com mestrado em Engenharia Mecânica e Doutorado em Ciências Mecânicas. Ao longo de sua carreira acadêmica, Fragelli se destacou pela criação de técnicas, métodos e metodologias educacionais, sendo reconhecido com diversos prêmios. O Método 300 é resultado dessas pesquisas.
O ponto-chave de seu método é a colaboração entre pares como parte de um processo que visa combater o desânimo causado pelas dificuldades inerentes ao processo ensino-aprendizagem através da criação de uma espécie de papéis sociais em sala de aula, nas figuras de ajudantes e ajudados.
Tal design faz com que estes aprendam a criar estratégias próprias por meio da autorreflexão sobre o próprio processo de aprendizagem. Um aspecto interessante do método é sua aplicabilidade mesmo em turmas massivas, tendo em vista que já foi aplicado em turmas de até 250 alunos.
O nome ‘Método 300’, segundo o próprio autor, deriva de duas origens diferentes: o contexto original de sua criação, composto por 250 estudantes e 50 colaboradores, e a história dos trezentos soldados espartanos que ganhavam batalhas, baseando-se na premissa de que cada soldado era responsável pela defesa do soldado a seu lado.
Como aplicar o método?
O Método Trezentos se aplica, segundo Fragelli, a basicamente qualquer cenário educativo, mesmo à sala de aula tradicional. Após estabelecer o cenário de aplicação, deve-se determinar como se dará a forma de avaliação (prova escrita ou oral, trabalho, projeto, seminário, autoavaliação etc.). O método se inicia após a primeira avaliação, em que estão estabelecidos os resultados.
Etapa 1 – Criar os grupos
A primeira etapa do método consiste na formação dos grupos de alunos, baseada em uma criteriosa organização a partir da lista de notas da avaliação inicial. Os passos definidos por Fragelli são:
- Organizar a lista de notas da maior para menor;
- Calcular o quantitativo de grupos, compostos normalmente por cinco ou seis alunos. Em caso de turmas menores, pode-se reduzir a quantidade de alunos por grupo;
- Organizar os alunos nos grupos da seguinte forma: numerar os alunos de 1 até “x”, da maior para a menor nota, de acordo com o número de grupos estipulado. Por exemplo, numerar de 1 até 10, no caso de 10 grupos. Depois, numerar de “x” até 1 (ordem decrescente) os alunos restantes, repetidamente, até atingir todos os alunos;
- Agrupar os alunos com o mesmo número, ou seja, os de número 1 ficarão em um grupo, os de número 2 em outro e assim por diante, até o último número.
Etapa 2 – Determinar os ajudantes e os ajudados
Deve-se estabelecer uma nota que defina o ponto limite entre quem será ajudante e quem será ajudado. Isso depende da especificidade de cada curso e disciplina, mas pode ser a partir dos critérios da instituição, por exemplo, nota 5,0 (cinco).
Embora todos se ajudem, segundo Fragelli, a denominação ajudante e ajudado é importante para a determinação das atividades do método. Por exemplo, somente ajudados podem fazer nova avaliação após o cumprimento de metas, e os ajudantes elevam suas notas de acordo com a melhora de seus ajudados e de seu envolvimento.
Etapa 3 – Definir metas
A definição de metas e de um prazo para sua execução é necessária para todos os integrantes. Enquanto as metas dependem das especificidades de cada curso e das habilidades e competências dos alunos, individual e coletivamente, os prazos, em geral, são de 7 a 15 dias para cursos presenciais e 20 dias para cursos de Educação a Distância (EaD).
Fragelli considera que as metas devem considerar a integração dos alunos e os conceitos a serem aprendidos e que devem ser trabalhadas individualmente em ambiente extraclasse e em nível colaborativo dentro do grupo. As metas são, portanto, individuais tanto para os ajudantes como para os ajudados. Aqui ressalta-se o aspecto metacognitivo de aprender a aprender, em que o aluno definirá qual a melhor forma para si próprio.
Oferecendo suporte e desafios
Ao mesmo tempo em que se pode oferecer para os ajudados a possibilidade de resolução das questões de prova (em especial as que foram erradas) ou de questões formuladas pelos ajudantes, é possível oferecer aos ajudantes questões adicionais e desafios. Também são utilizadas reuniões de duas horas de duração em que os alunos interagem com base em suas metas individuais, e Fragelli também recomenda, para os estudantes mais maduros, uma criação de um roteiro que explicite os encontros e defina fases e processos.
Etapa 4 – Realizar nova avaliação
Após o prazo definido, será realizada nova avaliação somente com os ajudados, para determinar o cumprimento das metas. O conteúdo e o grau de complexidade serão os mesmos da avaliação anterior. Os ajudantes farão uma autoavaliação, baseada na escala de Likert, em outro espaço, e sua nota será reavaliada conforme esses dados.
Etapa 5 – Reavaliar ajudantes e ajudados
A reavaliação pode ser pautada em competências, para aqueles cursos cuja avaliação não atribua notas, ou mesmo em notas, para que o aluno fique com uma média das duas ou com a maior, conforme o planejamento estipulado. Porém, como os ajudantes não realizam nova avaliação, pode-se incrementar sua nota original com base no nível de ajuda ofertado ao grupo e a consequência de tal ajuda.
Fragelli criou, a partir de tal ideia, uma escala de níveis de ajuda. Para notas máximas de 10 pontos, pode-se utilizar valores (N1 e N2), em que N1 é igual ao valor que define ajudantes e ajudados, N2 um valor com aumento em relação a N1. O exemplo dado é comum, curso com nota máxima de 10 pontos e mínima de 5, poderia ser utilizado N1 = 5,0 e N2 = 7,0.
Incremento de notas com base na escala de ajuda
A partir da autoavaliação com o nível de ajuda (1, 2, 3, 4 ou 5, em uma escala que vai desde ajudou nada ou 1 até ajudou muito ou 5), seria dado um incremento na nota da reavaliação que vai de 0,0 no caso de ajudou nada até 0,5, caso a nota final seja menor que N1; 1,00, caso a nota esteja entre N1 e N2; e até 1,50, caso a nota final seja igual ou superior a N2.
Por exemplo, caso N1 tenha sido 5,0 e N2 tenha sido 7,0 e na avaliação o ajudante tenha colocado que ajudou muito, a nota de ambos poderá aumentar 1,50, a nota final irá a 8,50. Em princípio pode parecer confuso, mas com o questionário de autoavaliação de ajudantes e ajudados, e a tabela de aumento de nota, oferecidos no livro de Fragelli, bastando colocar os valores, fica mais fácil entender e aplicar o método.
Recomendação de leitura
O Método 300 parece ser uma forma eficaz de colaboração mútua e de fazer todos evoluírem visando a um objetivo comum. Para melhor entendimento e para vislumbrar exemplos colocados pelo próprio autor, sugiro a leitura de seu livro “Método Trezentos: aprendizagem colaborativa e ativa”. Ele também apresenta resultados e relatos de experiência, que tornam muito mais fáceis o entendimento e a aplicação do método. Vale a pena dar uma olhada.
Por André Codea
Mestre em Ciência da Motricidade Humana. Pós-graduado em Gestão Escolar e Anatomia. Escritor e palestrante em Neurociência Pedagógica. Autor do livro “Neurodidática – Fundamentos e princípios”
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