Bolsonaro derrota o projeto de poder do PT
Jair Messias Bolsonaro, de 63 anos, foi eleito neste domingo, 28, o novo presidente do Brasil. Sua vitória foi oficializada pela ministra Rosa Weber, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 19h18.
Deputado federal no sétimo mandato, capitão reformado do Exército e filiado ao então desconhecido Partido Social Liberal (PSL), legenda que ele alavancou nas urnas em todo o país, será o 38º presidente, quebrando um ciclo de quatro vitórias consecutivas do PT nas eleições para o Palácio do Planalto, sucedidas por pouco mais de dois anos de gestão de Michel Temer, do PMDB, após o impeachment de Dilma Rousseff em agosto de 2016.
A contabilização dos mais de 57 milhões de votos de Bolsonaro aponta que ele venceu em 16 estados — todos os das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde estão os maiores colégios eleitorais. Perdeu em Alagoas, na Bahia, no Ceará, no Maranhão, na Paraíba, em Pernambuco, no Piauí, no Rio Grande do Norte, no Sergipe, no Pará e no Tocantins. Os números que resultam das urnas indicam que, a exemplo do que ocorrera em 2014, São Paulo ergueu uma muralha contra o PT: o presidente eleito ganhou com dianteira de 15 milhões de votos no maior estado da federação. Também foram expressivas as votações em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, respectivamente o segundo e o terceiro colégios eleitorais.
Além de quebrar a polarização de três décadas entre PSDB e PT na corrida presidencial, a vitória de Bolsonaro reflete a repulsa da maior parcela da população brasileira ao projeto de poder do PT, alicerçado em meio a sucessivos escândalos de corrupção e à pilhagem dos cofres públicos nos últimos anos. Não à toa, seu líder máximo, o ex-presidente Lula, tentou à exaustão comandar a campanha do afilhado político, Fernando Haddad, de dentro da prisão. O radicalismo nas ruas e nas redes sociais foi a marca desta campanha eleitoral, que entrará para a história como a mais acirrada desde a redemocratização e cujo ápice foi o imperdoável atentado contra o próprio presidente eleito, à época candidato, esfaqueado durante um ato na cidade mineira de Juiz de Fora em setembro.
Além da derrota do PT, as eleições deste ano impuseram um duro golpe aos líderes tradicionais e aos partidos acostumados a dar as cartas na política pelo país. Muitos foram varridos das urnas pelo efeito da Operação Lava Jato. Outros, acabaram alijados da vida pública pelo esgotamento do até então tolerante eleitor brasileiro com desmandos dos seus governantes. Em 2018, não foi assim. O resultado será a formação de um Congresso Nacional com 30 partidos representados, centenas de caras novas e um punhado de siglas — algumas ainda à deriva — à procura de fusões para não serem riscadas da política pela cláusula partidária de barreira. Não foi só: o desenho das Assembleias Legislativas nos estados é alvissareiro na formatação de Casas menos carimbadoras dos anseios dos governadores eleitos. Não é exagero dizer que muitos dos futuros governadores não terão vida fácil no Legislativo no ano que vem — talvez, quiçá, não sejam mais seus quintais no Legislativo.
No plano federal, a base de apoio de Bolsonaro no Congresso ainda é incógnita, mas o recorte das bancadas sugere que ele terá maioria na largada. Seu primeiro teste de traquejo e engenharia política será a articulação para a eleição da direção da Câmara e do Senado em janeiro.
Soma-se à insatisfação popular com a velha política, a força do discurso conservador e da agenda liberal, esta mais à direita, que ganha corpo no mundo todo no correr dos últimos anos — não só com Donald Trump, nos Estados Unidos, mas que se espraiou pelo Reino Unido, pela França e a Alemanha e que agora ecoa na América Latina.
Desafios e equipe
À medida em que a campanha avançou, Jair Bolsonaro impôs alguns “freios de arrumação” no seu discurso e também no de aliados, como ao vice, General Hamilton Mourão (PRTB), e ao filho, Eduardo Bolsonaro, o campeão de votos para a Câmara dos Deputados. Mourão foi desautorizado a falar em alterar benefícios trabalhistas, como o 13º salário, e Eduardo levou um puxão de orelha por ter cogitado o fechamento à força do Supremo Tribunal Federal (STF). Essas ideias nunca foram explicitadas pelo então candidato à Presidência. Até mesmo o guru do futuro governo, o economista Paulo Guedes, foi sacado dos holofotes da mídia depois de aventar a criação de um imposto similar à antiga CPMF (tributo que ficou conhecido como o imposto do cheque até 2007).
Mais: Bolsonaro disse que não pretende afastar o Brasil do Acordo de Paris — tratado para conter o aquecimento global — e reviu sua estratégia de unificar os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. No âmbito social, conseguiu reduzir alguns danos à pecha que a esquerda tentou fazer colar nele, como um político homofóbico, racista e condizente com a tortura na ditadura militar. Para tal, recebeu apoios da sociedade civil e contou com os deslizes de Haddad e das siglas satélites do lulopetismo — o próprio Haddad, por exemplo, compartilhou a informação errada de que Mourão havia torturado o cantor Geraldo Azevedo.
Nos próximos meses, Bolsonaro deverá anunciar alguns nomes do seu futuro time. Até agora, apenas Paulo Guedes (Fazenda e Planejamento), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e General Augusto Heleno (Defesa) são conhecidos. Mas muito se especula sobre a presença de militares na Esplanada dos Ministérios e no comando de estatais. O Itamaraty também é uma incógnita.
Se é fato que o mercado reagiu bem ao crescimento de suas intenções de votos até este domingo, são aguardados nomes para postos como o comando do Banco Central e da Petrobras, esta a gigante estatal que esteve no epicentro do maior escândalo de corrupção da história brasileira. É possível que alguns desses nomes devam ser conhecidos em breve, tão logo o presidente eleito anuncie os integrantes da equipe que fará a transição de governo com a gestão de Michel Temer.
Os brasileiros que tantas vezes foram às ruas desde o impeachment de Dilma Rousseff têm um novo presidente eleito. Eleito pelo voto.
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