‘Excesso de gastos corrompeu a democracia e travou a economia’, diz economista de Bolsonaro
Paulo Guedes, economista da equipe de Jair Bolsonaro (PSL), participou do Jornal Jovem Pan desta terça-feira (18) e classificou o descontrole dos gastos públicos como “um grande enigma”, como disse no passado o ex-presidente Tancredo Neves. “Uma vez eleito, a primeira frase dele foi: ‘É proibido gastar’. É natural que uma democracia emergente queira pedir gastos para saúde e educação”.
Para Tancredo, era necessário cortar privilégios para poder investir em educação, saúde e saneamento básico, ou seja, privatizar e fazer uma reforma do Estado. “Quando ele morreu, nós saímos fazendo as aventuras heterodoxas, e essas mensagens de transformações do Estado foram perdidas”, diz Guedes.
Segundo Guedes, os economistas não estavam preparados para as transformações e a classe política não soube decifrar o tal enigma, o que acabou causando a hiperinflação.
“O governo (Ernesto) Geisel gastou muito e financiou com divida, criando uma vulnerabilidade cambial. Logo depois, entra o governo figueiredo, que gastou muito e financiou com a emissão de moeda. Criou, tanto, a vulnerabilidade cambial, quanto a subida da inflação. No governo Sarney teve excesso de gastos financiado com moeda, fomos para hiperinflação duas vezes. Finalmente, quando entra o Fernando Henrique, ele muda a forma de financiamento. Ao invés de financiamento inflacionário é o endividamento em bola de neve”, analisa.
O economista ainda diz que quando se freia com a moeda mas deixa os gastos públicos soltos, a tendência é aumentar impostos, juros elevados e desemprego. “O excesso de gastos corrompeu a democracia e travou a economia”, alerta.
Por outro lado, as coisas não estão perdidas. “Foi um longo aprendizado. O lado construtivo é que nós aprendemos. Hoje, isso está, relativamente, percebido”.
“A ideologia emburrece e a política também. Isso porque as pessoas se apaixonam e começam a levar tudo para os extremos. Está havendo um grande aprendizado. Se usava mal a política monetária e se aprendeu a fazer. O último movimento foi tentar aplicar um teto de gastos, porque eles sobem descontroladamente, chegaram a 45% do PIB e os impostos subiram. São muitos impostos, os impostos são de níveis de países muito desenvolvidos e muito acima dos países emergentes”, criticou.
Para Guedes, estamos vivendo hoje a morte da velha política. “A governabilidade que vai ser construída daqui para frente é em novas bases. Ela não é o toma-lá-da-cá no congresso. Ela vai ser costurada em torno de um pacto federativo. É uma descentralização dos poderes. A recuperação do protagonismo da classe política. A classe não pode ficar só nas páginas policiais, trocando favores e tentando ter diretorias de empresas estatais para refinanciar as próximas campanhas”.
“O governo Temer conseguiu aprovar o teto, mas não fez as paredes, que são as reformas, então o teto vai cai. Tem candidato dizendo que o teto vai ser flexibilizado. Para nós será o contrário. Queremos construir os fundamentos fiscais para o teto ficar em pé. O teto é importante”, analisou Guedes.
O economista afirmou que a equipe está pensando nos três principais gastos: “O primeiro e maior gasto de todos é o problema previdenciário. Não é a toa que está todo mundo dizendo que precisa fazer a reforma da previdência”.
Guedes comparou a reforma a um avião cheio de bombas relógio indo em direção a uma montanha. “A primeira bomba é o tempo. A população está vivendo mais. Então, as pessoas estão pensando em como impedir que o país quebre a previdência antes do país ficar idoso”.
“A segunda bomba é uma arma de destruição de massa de empregos, que são os encargos trabalhistas. O sistema já está com dificuldades de financiamento, como os encargos são proibitivos. 56 milhões de brasileiros não têm carteira assinada. Eles vão envelhecer, vão pressionar a previdência e não contribuem. Para se criar um emprego para um brasileiro é preciso manter o outro desempregado, porque um custa dois, isso é um crime contra a geração de empregos”, ressaltou.
O terceiro problema é a fábrica de desigualdades: “O setor público tem salários muito maiores que o setor privado. Você está fabricando desigualdade. Da mesma forma que o BNDES fabricou desigualdade quando deu dinheiro para grandes empresários em detrimento das empresas pequenas e médias que estão abandonas, sem crédito. A mesma coisa acontece com a previdência”.
“Outro defeito que ela tem é um sistema que chamamos de repartição. O jovem contribui e o idoso pega o dinheiro e gasta. É como se um jovem tivesse que entrar em um avião que vai cair ali na frente para que o pai dele pule de paraquedas. Isso é um crime contra a geração dos jovens. Temos uma responsabilidade com as gerações futuras. Não é nada simples esse problema”, advertiu.
Apesar de Jair Bolsonaro e boa parte do congresso ser contra às privatizações, Paulo Guedes nada contra a maré. “A privatização não é uma privatização em si, não é nada ideológico. É uma transformação do Estado. Você completa essa transição para uma democracia emergente. O dinheiro tem que ir onde o povo está. Esse é o enigma que devorou a classe política brasileira”.
O economista também afirmou que Jair Bolsonaro não tem bastante tempo na TV e no rádio porque não aceitou aliança nos termos de governabilidade antigos. “A aliança será sistêmica e programática. Eu diminuo minha importância em todos os sentidos. Não adianta me atribuir uma importância que eu não tenho no processo politico. Importância quem tem é ele [Bolsonaro] como candidato, se dizendo contra esse tipo de politica que está aí”, finalizou.
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