“Hoje é um, amanhã é outro”, diz Wagner sobre interdição de Lula

  • Por Jovem Pan
  • 11/04/2018 11h26 - Atualizado em 11/04/2018 11h53
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FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO "Lula está virando anjo, na minha opinião. Lula está virando uma ideia, um ente. Batem tanto nele, que estão canonizando o Lula", disse o ex-governador baiano

O ex-governador da Bahia e ex-ministro Jaques Wagner (PT) disse nesta quarta-feira (11), em Curitiba (PR), que a “interdição” da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso na Lava Jato, ao Planalto ameaça todos os partidos políticos.

“A interdição do Lula não afronta o PT, não afronta a esquerda, afronta a democracia. Alguns podem estar torcendo e batendo palma para essa interdição por uma conta, na minha opinião, muito rasa, por uma conta muito mesquinha, muito imediatista, por achar que a não presença de Lula na eleição ajuda eles”, ponderou Wagner.

“Mas, hoje é um, amanhã é outro. Toda vez que você interdita a democracia, você na verdade está trabalhando contra qualquer partido político e qualquer ideário conservador ou progressista, de esquerda ou de direita”, afirmou o ex-governador, que é acusado pela Lava Jato de receber R$ 82 milhões em propinas e doações das empreiteiras OAS e Odebrecht pela construção do estádio Fonte Nova para a Copa do Mundo, algo que ameaça sua própria pré-candidatura velada.

“Lula está virando um anjo”

Apontado como um dos “planos B” do PT caso a impossibilidade da candidatura de Lula se concretize, Wagner negou a condição, “que trabalha para nossos adversários”, mas cogitou a possibilidade de Lula ficar fora do páreo.

Para Wagner, a transmissão de votos de Lula para uma segunda opção da esquerda não será algo “tão simples” ou “tão automático”, “porque depende muito de quem for o candidato”.

O baiano defende a criação de uma “plataforma que unifique o campo progressista”. “O nome é consequência da força dessa plataforma”, disse. “Se o Lula sair é inevitável que é ele que vai centralizar a maioria desse campo”, afirmou, citando as conquistas sociais do governo do ex-presidente.

“Lula está virando anjo, na minha opinião. Lula está virando uma ideia, um ente. Batem tanto nele, que estão canonizando o Lula. Jamais vão apagar ele da mente das pessoas”, disse também Wagner, ressoando o discurso do próprio ex-presidente antes de ser preso no último sábado (7).

“Ninguém lembra dos algozes” de Tiradentes, Martin Luther King ou Zumbi dos Palmares, afirmou Wagner, comparando Lula às figuras históricas.

“Se vier a interdição, eu acho que a gente já terá acumulado o suficiente para escolher alguém dentro ou fora do partido”, cogitou também o ex-governador.

Wagner entende que, “como por enquanto não está consolidada a candidatura de Lula, todo mundo tem direito de lançar sua própria candidatura”, inclusive o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes. Ele espera, no entanto, que a esquerda se una mais adiante. “Quando a gente se reunir para discutir programa de governo, frente que nos unifica, não sei por que alguém não viria”.

Wagner nega afastamento

O petista negou que sua ausência no comício em São Bernardo do Campo, onde Lula se entregou à Polícia Federal, significou um distanciamento do ex-presidente. “Quem mais sentiu fui eu, não consegui chegar naquele momento”, disse, alegando problemas logísticos de voo, embora Lula tenha ficado dois dias abrigado no Sindicato dos Metalúrgicos após a ordem de prisão ser emitida. “Não tomem minha ausência de lá como nenhum afastamento”, pediu.

“Meu nome surge às vezes como plano A, B e C, porque o governo da Bahia teve muito êxito”, elogiou-se Wagner. “Estamos aqui o tempo todo, física ou de espírito, estamos com (a ex-primeira-dama) Marisa onde ela estiver”, disse também.

1964 x 2018

Wagner comparou a interdição da candidatura de Lula ao golpe militar de 1964. “O movimento de 64 tem exatamente a mesma matriz do movimento de hoje”, disse o petista, citando “a mesma matriz de desprezo pelo voto popular”.

Ele vê, no entanto, uma “luta mais cínica, mais hipócrita que a dos militares em 1964”. “A democracia é um animal de três pernas, só anda empurrada. Para ela andar, precisa da pressão nas ruas”, sugeriu o petista.

Os “golpistas”, para Wagner, “criaram o fanatismo da extrema direita conservadora, e eu não cito o nome de quem não gosto, representada por determinado candidato”, em alusão ao pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL).

“A conjuntura política ninguém pode traçar hoje”, destacou, porém, o baiano.

Críticas ao STF

Jaques Wagner criticou a extrema exposição dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu a mudança do entendimento atual da Corte, estabelecido em 2016 e considerado uma das grandes conquistas da Lava Jato, que permite que condenados em segunda instância comecem a cumprir a pena de prisão.

“Eu não acho bom para a democracia brasileira o bate-boca entre membros do Supremo Tribunal Federal. Quem teria que respeitar a Constituição, cada um joga para um lado?”, questionou. O político criticou a “torcida” que se faz em relação às decisões do Tribunal.

“Na hora em que um membro do Supremo está dando entrevista e opinando sobre a matéria que está sendo votado, acho que isso está criando uma ambiência danosa à democracia”, disse.

Veja a entrevista coletiva de Wagner transmitida pela página oficial de Lula no Facebook:

Publicado por Lula em Quarta-feira, 11 de abril de 2018

 

Nesta terça (11) o pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, também fez comício em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), onde Lula está preso.

Na segunda, foi a vez da pecedobista Manuela D’Ávila montar palanque no acampamento na capital paranaense que pede a soltura do ex-presidente.

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