“O PT tem esse sentido exclusivista de partido”, diz presidente do PSB

  • Por Estadão Conteúdo
  • 05/08/2018 08h31
Fotos Públicas/Arquivo PSB Presidente de partido em manifestação pública Presidente do PSB, Carlos Siqueira, defende uma reciclagem do campo de esquerda no Brasil

Na convenção marcada para este sábado, 5, em Brasília, o PSB vai referendar o acordo de neutralidade na eleição presidencial proposto pelo PT. Mas o termo não deverá aparecer no ofício que será apresentado pelo presidente nacional do partido, Carlos Siqueira.

Em vez de neutralidade, Siqueira deve dizer que o PSB optará pela “não coligação”. “Penso que o ideal seria ter um candidato de outro partido com apoio de toda a esquerda, mas isso não foi possível. Temos de trabalhar isso para o futuro”, disse ele, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.

Ao afirmar que foi voto vencido nessa questão, o dirigente criticou o “sentido exclusivista” do PT e defendeu uma “reciclagem” no campo da esquerda.

Como o sr. avaliou a estratégia do PT de trabalhar contra o apoio do PSB ao PDT?

Não é de hoje que o PT tem esse sentido exclusivista de partido, o que é um aspecto negativo. Seria o momento agora, como poderia ter sido em 2014 com o PSB, de apoiarem uma candidatura fora do âmbito do PT. Vejo o PT como o partido que sempre vai querer manter a hegemonia na esquerda. Ocorre, entretanto, que política é força. Ou você tem ou não tem. Quem não tem o suficiente vai ter de estar junto dos que demonstram maior força. Mesmo com o candidato do PT preso, o ex-presidente Lula tem a maior intenção de voto do País. Goste ou não do Lula, ele é a única liderança popular do País.

O sr. rejeitava a ideia do PSB se manter neutro na disputa presidencial. O que mudou?

Não será neutralidade, mas uma posição política de apoio (nos Estados) a candidatos que tenham a ver, programaticamente, politicamente e ideologicamente com o Partido Socialista Brasileiro. Temos dez candidatos a governador em Estados importantes, sendo dois deles à reeleição. Precisamos facilitar as coligações nos Estados. Pessoalmente, gostaria mais que fôssemos com o PDT ou com o PT, mas tenho de acolher as manifestações majoritárias do partido. Mesmo aqueles que queriam apoiar Ciro e o PT estão entendendo isso, com raras exceções. Espero que no futuro próximo, não nessa eleição ainda, a esquerda possa ter uma reciclagem.

Ao definir a neutralidade na eleição presidencial, o PSB não está impedindo essa alternância?

Eu lamento profundamente que isso aconteça, mas é o que vai acontecer se os nossos delegados congressistas assim aprovarem. Penso que o ideal seria ter um candidato de outro partido com apoio de toda a esquerda, mas isso não foi possível.

Esse perfil exclusivista do PT pode aprofundar a crise na esquerda brasileira?

Política é força. Se nós, o PDT ou PCdoB conseguirmos avançar ao ponto de ter uma candidatura suficientemente densa, então isso se resolve. Porque, se depender da vontade do PT, nunca vai acontecer.

O que faltou a Ciro Gomes para que liderasse a esquerda?

O problema não está no Ciro, mas no PT e nessa visão exclusivista deles. É uma liderança preparada. Tem seu destempero, que é um dos defeitos, mas isso nunca o levou a tomar uma atitude irresponsável.

Por que o PSB não colocou Marina Silva, da Rede, no radar?

Ela veio aqui pedir apoio para a Presidência da República. Conversamos em várias ocasiões, mas da última vez que Marina veio aqui, a Rede havia rompido com o governador (do DF, Rodrigo) Rollemberg. Veio aqui pedir apoio e anunciou que estava rompendo com o governador Paulo Câmara em Pernambuco e lançando um candidato de oposição.

Não foi ruim participar de acordo com o PT em Pernambuco que sepultou a candidatura de Marília Arraes, neta de Miguel Arraes?

São circunstâncias difíceis. Às vezes na política a gente não faz o que quer, mas o que é necessário.

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