TSE proíbe, mas robôs estão presentes nas redes sociais; saiba como identificá-los

  • Por Nicole Fusco
  • 31/08/2018 18h47 - Atualizado em 31/08/2018 18h51
Free Stock Photos robos; internet O principal objetivo dos robôs é criar a sensação de maioria nas redes sociais

A propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio começou nesta sexta-feira, 31, mas a campanha já está liberada na internet desde o último dia 16. Com o poder de decidir as eleições, as redes sociais ganharam novas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma delas trata especificamente dos robôs, usados de forma massiva e artificial para gerar conteúdo e interagir com pessoas reais com o objetivo de interferir nos debates públicos.

Existem duas gerações de bots, como são conhecidos. A primeira é composta pelas contas controladas por softwares que publicam constantemente sobre um mesmo assunto. A segunda, mais usada, é administrada por uma ou mais pessoas e tem como objetivo publicar e republicar links com notícias favoráveis ou contrárias a algum político. Os conteúdos, porém, são mais originais e mais diversificados – afinal são comandados por humanos.

Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, nas eleições majoritárias de 2014, cerca de 11% dos 2.307.185 tweets analisados foram publicados artificialmente. Já no processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2015, quase 22% dos 826.493 posts analisados no Twitter de seus apoiadores foram impulsionadas artificialmente.

Nas eleições municipais de 2016, foram 11,25% entre os apoiadores de João Doria (PSDB) e 11,54% entre os de Fernando Haddad (PT) dos 148.257 tweets considerados para a pesquisa. Esse número subiu para 22,39% entre os apoiadores da greve geral de abril de 2017 contra as reformas Trabalhista e da Previdência, propostas pelo presidente Michel Temer. Nesse caso, foram levados em consideração 1.460.160 tweets.

O Twitter é a rede social que oferece maior facilidade para a atuação dos robôs em relação ao Facebook. Isso ocorre porque o padrão de texto do Twitter, de apenas 280 caracteres, ajuda a imitação da ação humana. Além disso, os robôs conseguem marcar pessoas reais aleatórias por meio do @, o que atribui características humanas às interações artificiais.

Outro fator que contribui é a falta de critério das pessoas ao seguir um perfil no Twitter, enquanto no Facebook as pessoas tendem a ser mais cuidadosas. O levantamento da FGV cita experimentos que mostram que 60% dos usuários aceitam pedidos de amizade quando há pelo menos um amigo em comum. Só 20% dos usuários reais aceitam pedidos de amizade de maneira indiscriminada.

Influência

Tendo em vista que as redes sociais são cada vez mais o meio de comunicação e de informação mais importante dos cidadãos, este tipo de manipulação feita pelos robôs atinge diretamente os processos políticos e democráticos por meio da influência da opinião pública. “O objetivo dos bots sempre é criar esse sentimento de maioria. Em contextos eleitorais muitos tomam a decisão pela maioria, com base no que o restante está pensando”, explica Fabio Malini, coordenador do Labic (Laboratório de estudos sobre imagem e cibercultura da UFES).

Segundo ele, há dois fenômenos em curso envolvendo os robôs – e ambos fizeram dessas interações um negócio. Um deles diz respeito a empresas contratadas para criar dezenas, centenas ou até mesmo milhares de contas para republicar links favoráveis ou desfavoráveis a alguém. O outro é a robotização dos humanos, ou seja, pessoas reais que passam a compartilhar conteúdos previamente determinados sobre algum candidato nas suas próprias páginas mediante pagamento.

Nesta semana, o PT foi alvo de denúncias envolvendo esse tipo de propaganda eleitoral. No final de semana passado, a hashtag “Piauí” foi uma das mais comentadas no Twitter depois que surgiu a suspeita de que uma agência, chamada Lajoy, ter sido contratada para fazer propaganda do governador do estado, Wellington Dias (PT), que tenta a reeleição.

Embora o exemplo seja da esquerda, o uso de bots é usado, no âmbito político, tanto por esse espectro quanto pela direita. “Esses serviços não têm ideologia. A ideologia deles é dinheiro”, afirma Malini.

O TSE proíbe o uso de robôs para a propaganda eleitoral na internet com o objetivo de garantir a “lealdade” nas campanhas. “É vedado o uso de outros dispositivos ou programas, tais como robôs, notoriamente conhecidos por distorcerem a repercussão de conteúdo”, informa a cartilha divulgada pela Corte. Quem descumprir a medida, terá de pagar multa no valor de R$5 mil a R$30 mil e também estará sujeito a sofrer processo criminal e civil, conforme o caso.

E como identificá-los?

Mas como identificar se uma conta pertence a uma pessoa real ou a um robô? Segundo Malini, há algumas características que ajudam nesse processo: postagens iguais, feitas durante o horário comercial (usuários reais geralmente postam quando estão fora do trabalho), são algumas delas. Além disso, é importante verificar há quanto tempo aquela conta existe e quantos amigos e seguidores ela possui. “Bots, normalmente, têm muitos amigos e muitos seguidores porque criam essa rede a partir do script do ‘me segue que eu te sigo’”, disse o especialista. O estudo da FGV destaca também as características de conteúdo e linguagem e as características do sentimento expressado por meio da postagem.

Apesar da aparição constante desse tipo de ferramenta, Malini acredita que a influência dos bots no debate eleitoral deste ano será “muito baixo”. Para ele, os candidatos devem apostar no impulsionamento de posts por meio do Facebook e do Instagram — prática que é permitida pelo TSE. “Por que as campanhas vão usar bots sabendo que eles deixam inúmeros rastros digitais, sendo que com R$ 300, R$ 400, R$ 500, elas podem alcançar centenas de pessoas?”, questiona ele.

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