Amália Rodrigues é retratada em calçada de pedras portuguesas em Lisboa

  • Por Agencia EFE
  • 22/07/2015 10h27
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Bárbara Pereira.

Lisboa, 22 jul (EFE).- Dois dos principais ícones da cultura portuguesa estão juntos no mais recente trabalho do artista português Vhils, que criou um mosaico na tradicional calçada do bairro de Alfama, em Lisboa, em que retrata a “rainha” do fado, Amália Rodrigues.

Através de linguagens de diferentes épocas, a obra mostra o rosto de Amália Rodrigues (1920-1999) com os contrastes do branco e o preto das pedras portuguesas, para a qual Vhils contou com a ajuda dos calceteiros (os operários que trabalham no pavimento de pedras das ruas) da prefeitura de Lisboa e da escola da capital em que esta tradição é preservada.

A peça combina diversos gêneros como o fado, a calçada portuguesa e a arte urbana, que confluem em um mesmo cenário: a rua.

Alfama, um dos bairros mais típicos de Lisboa, foi o espaço eleito para receber a peça, apresentada ao público no início deste mês após três meses de preparação e quatro semanas de montagem.

A ideia da homenagem surgiu do desafio lançado pelo cineasta português Ruben Alves, que queria a imagem da fadista para a capa do álbum “Amália, as vozes do fado”, projeto em que ele é diretor de arte.

Alves pensou em fundir estes símbolos genuínos da cultura portuguesa, pois o fado tem origem na música que emerge das ruas e do povo português.

“Desafiei Vhils a fazer isto porque é, de certa maneira, muito urbano e talvez para atrair um público diferente”, declarou Alves à Agência Efe.

A peça, denominada “Calçada”, inaugurada na presença da irmã da fadista, Maria Celeste Rodrigues, é a primeira obra de Vhils a partir de um mosaico em calçada portuguesa.

Alexandre Farto, conhecido como Vhils, é uma das figuras mais importantes da arte urbana no mundo todo, e possui obras espalhadas por Lisboa, Porto e Aveiro, e em outros países, entre eles Espanha, Colômbia, Reino Unido, China e Estados Unidos.

O artista trabalha com a noção de “estética de vandalismo” e grande parte de seus trabalhos retratam rostos de pessoas, como a chanceler alemã Angela Merkel, o guerrilheiro Che Guevara e outras faces anônimas.

A esta lista se uniu Amália Rodrigues, com uma obra que aprofunda a ideia do artista de que são os rostos que constroem uma cidade, dando vida, história e memória.

“A homenagem que Ruben e Vhils construíram é realizada por uma geração muito diferente. Não viram os shows de Amália, mas ela deixou sua importância simbólica em sua educação, sua cultura e seus afetos, que hoje se projeta e se imortaliza para o futuro”, disse à Efe o prefeito de Lisboa, Fernando Medina.

O retrato de Amália está na rua de São Tomei, muito perto de onde jaz a fadista, no Panteão Nacional, junto de outros portugueses ilustres.

Na colina situada entre o rio Tejo e o Castelo de São Jorge, as estreitas ladeiras de Alfama continuam a fazer eco dos versos melancólicos da cantora.

“Alfama não cheira a fado, cheira a povo, a solidão. Cheira a silêncio machucado, sabe a tristeza com pão. Alfama não cheira a fado, mas não tem outra canção”, entoava Amália em 1958.

Sua poderosa voz soa até hoje na memória dos portugueses e, embora o fado tenha se modernizado, continua inspirando novas gerações de fadistas.

Com mais de 40 anos de carreira, Amália Rodrigues é considerada a personalidade por excelência deste gênero musical, com mais de 170 discos lançados em todo o mundo. EFE

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