Arquitetura ecológica defende volta da construção com terra no Uruguai
Marta Rodríguez Martínez.
Montevidéu, 9 jan (EFE).- Benefícios para a saúde, melhor isolamento, contato com a natureza e autonomia são as razões pelas quais a construção de casas com terra vive um novo auge sob a defesa de grupos como a Rede Ibero-Americana de Arquitetura e Construção com Terra, a Proterra.
“Consiste em voltar a adotar padrões culturais de antes, mas a partir de uma visão contemporânea, que permite incorporar tecnologia amigável com o meio ambiente nas casas”, explicou à Agência Efe a arquiteta uruguaia Rosario Etchebarne, integrante da Proterra e da Cátedra da Unesco Arquitetura de Terra.
Rosario constatou que há cinco anos há uma maior demanda global para viver em casas projetadas com terra e madeira como principais elementos.
A este respeito, ela enumerou as vantagens deste tipo de construção relativas à saúde, porque “se respira dentro de ambientes mais saudáveis”, e ao conforto, já que tem grande capacidade de controle da umidade e proporciona um alto isolamento técnico e acústico para a estrutura, capaz de regular a reverberação do som.
Além disso, além do ponto de vista da construção, seus benefícios são também de ordem filosófica e psicológica, ao colocar um contato mais direto dos moradores da casa com a natureza, acrescentou.
Mais da metade da população mundial vive em casas de terra, em lugares com diferentes climas e diversidade de situações sociais e econômicas, segundo dados da Unesco.
De fato, nos centros históricos de grandes cidades latino-americanas como La Paz, Bogotá e Lima, assim como em grandes centros europeus como Lyon, Estrasburgo e Madri são abundantes os prédios erguidos em terra.
No Uruguai, este fenômeno é ainda recente, mas se expande rapidamente pela costa leste, especialmente por Rocha, assim como em departamentos do interior como Salto, onde é muito comum a autoconstrução das casas, explicou Rosario sobre seu país.
Segundo sua opinião, com base na terra as pessoas participam da construção de sua casa e geram um conceito de propriedade mais integral que o dos moradores de prédios de concreto levantados por grandes empresas construtoras.
“Antes consertar o reboco ou a pintura era a rotina do ano, como cozinhar pão ou fazer marmelada caseira, no entanto, com a mudança de hábitos de vida, a casa se transformou em um dormitório e se perdeu o hábito da sua manutenção”, argumentou Rosario.
A arquiteta uruguaia defendeu, por outro lado, que a construção com terra pode ajudar a solucionar problemas de pobreza, mas lamentou que somente são desenvolvidos projetos isolados e que estes sofrem a resistência do mercado imobiliário tradicional.
Entre os estigmas que a arquitetura convencional atribui a este material está o risco de desmoronamento perante fortes fenômenos naturais como os terremotos.
“As estruturas destas casas são flexíveis como uma cesta de vime que se enche com terra, ao contrário do concreto que é rígido, o que lhe permite acompanhar o movimento do vento sem cair”, assegurou Rosario para desmistificar esta ideia.
“Por isso, havia mais sabedoria nessa forma de pensar as estruturas que nas de agora com o concreto”, sentenciou a uruguaia.
Para o arquiteto espanhol Alexandre Pillado, o concreto armado é um material “excepcional” com uma resistência estrutural “sem igual na história da arquitetura”, mas com uma problemática pouco conhecida por ser ainda recente.
“No final, a questão não é construção com terra sim ou não, mas utilizar racionalmente os recursos do lugar”, defendeu Marta Boneta, também arquiteta espanhola.
“Você não pode usar barro no polo norte, mas sim em muitas regiões da África e da América Latina”, disse Marta, que testemunhou que existem carências em bioconstrução na formação universitária dos arquitetos.
Na universidade falar de terra sempre é “algo inovador e experimental”, concordou Rosario, para quem é necessário investir em formação, tanto de profissionais como de mão de obra. EFE
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