Arte urbana se torna a nova atração turística de Lisboa
Paula Fernández.
Lisboa, 14 jun (EFE).- Ao clima, à gastronomia, à oferta de monumentos e museus, além da relação custo-benefício, que multiplicaram a quantidade de turistas em Lisboa nos últimos anos, junta-se agora uma nova atração para captar visitantes: a arte urbana.
Fruto da espontaneidade dos artistas e de programas culturais é cada vez maior o número de paredes e muros da capital portuguesa que exibem obras deste tipo, que misturam crítica política e social às paixões artísticas dos seus autores, alguns deles de renome internacional.
Em Lisboa, a arte urbana surgiu do trabalho de grafiteiros que utilizavam as paredes da cidade para dar forma às suas mensagens políticas durante a segunda metade do século passado, fazendo parte de uma arte anônima que naquela época era considerada ilegal.
Um dos principais palcos deste movimento é o muro do Amoreiras Shopping, que começou sendo uma simples parede repleta de rabiscos e terminou se convertendo em uma tela para que os artistas soltassem a imaginação.
Muito perto da Praça do Marquês de Pombal, uma região lotada de hotéis e escritórios de grandes empresas do país, o muro conta hoje com a proteção da Câmara Municipal de Lisboa e suas obras, frequentemente voltadas à crítica política, são renovadas periodicamente.
Atualmente, no muro é possível ver uma menina rezando junto à mensagem “Pray for Portugal” (Reze por Portugal) e a chanceler alemã, Angela Merkel, manipulando duas marionetes parecidas com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, e o seu “número dois”, Paulo Portas.
O crescente interesse dos turistas pelas pinturas que decoram os muros lisboetas provocou o surgimento de iniciativas públicas e privadas para divulgar este tipo de arte, como galerias, exposições e visitas guiadas. A Câmara Municipal de Lisboa, por exemplo, criou em 2008 a Galeria de Arte Urbana.
“Este tipo de arte está crescendo bastante em Lisboa. Em termos turísticos é essencial. Lisboa já é reconhecida como um dos principais centros de arte pública e urbana em nível europeu”, disse à Agência Efe a coordenadora de passeio da plataforma cultural Underdogs, Marina Rei.
O Underdogs, um grupo que se dedica à promoção da arte urbana através de uma galeria, criou um programa de arte pública, com obras realizadas em espaços abertos.
Há alguns meses, o Underdogs iniciou um programa de visitas guiadas que aproximam moradores e turistas aos murais como o que o espanhol Okuda, nome artístico de Oscar San Miguel Erice, fez por ocasião da coroação de Felipe VI, intitulado “Rey de la jungla” (“Rei da selva”), ou o do brasileiro Nunca protagonizado por Pedro Álvares Cabral.
Entre as obras promovidas pelo Underdogs também está uma criação que combina a arte urbana do francês Olivier Kosta-Théfaine com uma das técnicas de decorações mais célebres de Portugal, a do azulejo.
“Algumas pinturas estão em edifícios abandonados doados pela Câmara, mas também temos uma seção para que os moradores possam doar o muro do seu prédio”, explicou Marina Rei.
A revitalização das áreas da cidade que estavam esteticamente degradadas foi o principal objetivo do projeto Crono, uma das maiores iniciativas de arte pública de nível internacional e que representou um ponto de inflexão da arte urbana em Lisboa.
Há cinco anos, o Crono reuniu 16 artistas de renome internacional, entre eles Os Gêmeos, o português Vhils, o italiano Blu e o espanhol Sam3, que dividiram as suas criações entre as quatro estações do ano.
As pinturas que decoram as fachadas de alguns edifícios da movimentada Avenida Fontes Pereira de Melo, elaboradas no marco do projeto Crono, são provavelmente as mais célebres de Lisboa e as que provocaram que o olhar de especialistas em arte urbana do mundo todo se voltasse à capital portuguesa.
O sucesso das obras foi tanto que, um ano depois, em 2011, elas foram incluídas na lista elaborada pelo jornal britânico “The Guardian” das dez melhores peças de arte urbana. EFE
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