Artesãos japoneses se reinventam para sobreviver
María Roldán.
Kioto (Japão), 29 mar (EFE).- Os anos têm sido cruéis com as indústrias tradicionais japonesas, como a do quimono, cujos artesãos se viram obrigados a aplicar suas técnicas milenares na criação de produtos modernos, como, por exemplo, capas para tablets.
Em uma pequena casa de madeira na cidade turística de Kyoto, na região central do Japão, Takeshi Nishimura se ajoelha em frente a uma mesa empunhando uma faca fina e traceja uma flor de cerejeira com precisão.
Para fazê-la, Nishimura utiliza uma das quatro técnicas tradicionais para talhar: o “kiribori”. Com uma faca com fio de meio círculo em posição vertical, ele gira rápida e suavemente, criando um buraco em forma de círculo.
Embora sua especialidade seja o “kiribori”, o artesão também se mostra habilidoso com a “hikibori”, técnica utilizada para fazer linhas com grande precisão.
“Não preciso de óculos, mas não enxergo bem de longe. Por isso tenho de me concentrar em coisas pequenas”, brinca, levantando rapidamente o olhar, durante uma demonstração de sua arte.
Perto dele há vários desenhos com diferentes temas, de florais a mitológicos. Os padrões que antigamente serviram para tingir delicados quimonos (traje tradicional japonês), hoje em dia são usados em lenços de seda ou em capas de couro para tablets.
Nishimura, que fará 62 anos em março, pertence à segunda geração de sua família que exerce esse ofício, mas há quase dois anos começou a diversificar seu negócio, ao compreender que “precisava fazer algo moderno”.
“É necessário ganhar a vida. Atualmente não é possível sobreviver apenas com o artesanato”, afirma com um sorriso melancólico.
O artesão ainda trabalha na produção de quimonos, mas afirma que a procura diminuiu drasticamente. A demanda em 1971 era de 100%, mas em 2013 caiu para apenas 2,6%.
“Eu tenho muitas ideias”, conta o artista, enquanto anda pelo quarto para pegar uma capa de tablet, que desenvolveu no ano passado e com a qual já viajou para Paris. “Acho que posso usar minhas habilidades para isso, porque a demanda não se limita ao Japão”, acrescenta.
Nishimura, demora de oito a dez horas para fazer uma capa grande, que vende por cerca de 30 mil ienes (R$ 715,00) em seu site e também em famosas lojas de departamento Mitsukoshi de Nihombashi, distrito empresarial de Tóquio.
Além de capas para tablets, Nishimura também faz impressões em papel para fins decorativos, estampas para garrafas térmicas e capas para celulares e cartões de crédito.
O artista aprendeu o ofício há 43 anos com seu pai, em uma época que ainda era comum que as crianças ajudassem os pais no trabalho. Algo que ele “não poderia pedir” para seus filhos, atualmente envolvidos em carreiras inovadoras e modernas, como a informática.
Para poder seguir adiante com seu trabalho, Nishimura diz contar com o apoio de sua esposa, que também trabalha, para que ele possa dar continuidade à sua profissão.
O prefeito de Kioto, Daisaku Kadokawa, afirmou recentemente que o “alto” preço dos quimonos e os “custosos processos” são alguns dos problemas enfrentados por esses profissionais. Sempre vestido com um quimono, em apoio à indústria, o prefeito disse também que esse não é o único setor que atravessa problemas.
Manufaturas como a cerâmica ou o saquê buscam novos nichos de mercado para não cair no esquecimento e atrair o interesse dos estrangeiros, que muitas vezes não compreendem a “sensibilidade” à qual a tradição japonesa se refere.
“As pessoas envolvidas nestes setores se esforçam ao máximo para desenvolver um produto perfeito (segundo a tradição japonesa), mas às vezes estes produtos não são apreciados pelos turistas. E, por isso, as vendas não vão bem”, concluiu o prefeito. EFE
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