Beija-Flor homenageia país africano comandado por ditador e causa polêmica com desfile

  • Por Jovem Pan
  • 17/02/2015 01h39

Guiné Equatorial foi tema de desfile da Beija-Flor

EFE Guiné Equatorial foi tema de desfile da Beija-Flor

Terceira escola a entrar na Sapucaí no segundo dia do Carnaval carioca, a Beija-Flor de Nilópolis fez uma homenagem à Guiné Equatorial, país africano de 700 mil habitantes cujo presidente mantém uma ditadura de 35 anos e teria pago R$ 10 milhões à escola de Nilópolis. O fato de a escola estar homenageando um país governado por um ditador causou polêmica antes mesmo de passar pela avenida e foi alvo de críticas na internet.

Apenas uma autoridade desfilou representando a nação, o embaixador da Guiné Equatorial no Brasil, Benigno-Pedro Tang, no sétimo e último carro alegórico. O presidente do país, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, e outras autoridades ficaram em um camarote adquirido pelo próprio governante e não foram à concentração acompanhar os preparativos para o desfile.

A ditadura do país homenageado é alvo de denúncias internacionais de desrespeito aos direitos humanos, o que fez o enredo ser comparado a alguns apresentados pela Beija-Flor na década de 1970, antes da contratação do carnavalesco Joaosinho Trinta. Na época, a escola de Nilópolis fez homenagens a aspectos da ditadura militar brasileira. A direção da Beija-Flor rechaçou a comparação.

Na pista, entre carros alegóricos e fantasias, ficou ressaltado o poder africano, com contemplação da fauna e da flora da Guiné Equatorial. Com movimentos sincronizados, homens vestidos de galhos simularam a produção e a saída da seiva, a concentração dos insetos e a distribuição das florestas.

Com temas orgânicos – o lado humano misturado à flora – a Beija-Flor passeou pela África Equatorial com a apresentação de detalhes do figurino e da cultura do país. Estes detalhes ficaram nítidos nos tons de marfim atribuídos às fantasias e nos adereços, como nas pescoceiras responsáveis por projetar o pescoço para cima e os grandes penteados que, para a Guiné Equatorial, quanto maiores forem, maior o glamour.

Comandando a bateria, estava a rainha Raíssa Oliveira, estudante de jornalismo e dançarina de samba. No carro abre-alas, Cláudia Raia desfilou como a deusa soberana. Com a voz do intérprete Neguinho da Beija-Flor, que canta há 40 anos pela escola, as batidas do samba-enredo lembraram os batuques comumente ouvidos no país da África Equatorial. A letra destacou a essência africana e associou o “guerreiro beija-flor” à “alma africana”.

Confira o samba-enredo da Beija-Flor:

Sou negro na raça,
No sangue e na cor
Um guerreiro beija-flor
Óh minha deusa soberana
Resgata sua alma africana

Vem na batida do tambor
Voltar na memória de um griô
Fala cansada, mãos calejadas
Ouça menino beija-flor
Ceiba árvore da vida
Raízes na verde imensidão
Na crença de tribos antigas

Força incorporada nesse chão
O invasor singrou o mar,
Partiu em busca de riquezas
E encontrou nesse lugar
Novas índias, outras realezas
Destino trocado, tratado se faz
Marejam os olhos dos ancestrais

Nego canta, nego clama liberdade
Sinfonia das marés saudade
Um africano rei que não perdeu a fé
Era meu irmão, filho da guiné
Formosa
Divina ilha testemunha dos grilhões
Eu vi a escravidão erguer nações

Mas a negritude se congraça
A chama da igualdade não se apaga
Olha a morena na roda e vem sambar
Na ginga do balelé, o ritual
Dessa mistura faço carnaval
Canta guiné equatorial
Criança, levanta a cabeça e vai embora
O mar que trouxe a dor riqueza aflora
Tem uma família agora
Quem beija essa flor não chora

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