Cairo islâmico ganha brilho em sua rua mais espetacular
Belém Delgado.
Cairo, 13 set (EFE).- A rua de Al Moez do Cairo é mais do que uma via cheia de vitrines de joias, antiguidades e narguilés: trata-se de uma janela do rico legado histórico do bairro islâmico da cidade, que agora volta a brilhar com seu próprio jogo de luzes.
Embora não seja promovida ao nível das maravilhas como as Pirâmides e o tesouro de Tutancâmon, Al Moez é uma das vias antigas da cidade egípcia que melhor conserva sua essência, apesar do caos, do barulho e da poluição que a acompanham.
Os últimos trabalhos de iluminação e restauração, que custaram cerca de US$ 2,5 milhões e foram apresentados nesta semana, pretendem reabilitar a região e aumentar a atração turística durante a noite, disse à Agência Efe o secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades do Egito, Mustafa Amin.
“Colocamos luzes e as fixamos em lojas e casas que dão para a rua para que o povo não pense só em viver aqui ou ter um negócio, mas também entenda que é sua responsabilidade receber bem os estrangeiros”, afirmou Amin.
Desta forma, disse, o visitante poderá apreciar a qualquer hora os elementos das fachadas e os monumentos no quilômetro de comprimento que tem a rua.
Seu nome completo, Al Moez Ledin Alá al Fatimi, corresponde ao do quarto califa fatímida e ao primeiro que governou o Egito no século X, fazendo do Cairo a capital de seus domínios.
Outros povos também deixaram sua marca: tal foi o caso da influência dos mamelucos (1250-1517) no palácio Barquq e no complexo de mausoléu e escola de Nasser Ibn Qalawon.
Além de mesquitas como a deslumbrante Al Hakim e a de Al Aqmar, no entorno existem construções singulares como a Casa Al Suheimi e os chamados complexos “sabil-kuttab” (fonte e escola, planejados para proporcionar água aos sedentos e educação religiosa aos “ignorantes”).
Os arquitetos não desperdiçaram a chance de revestir suas obras com luxuosos mármores, azulejos, madeira e com metais como o cobre.
Até hoje existe a tradição dos artesãos que trabalham o cobre, que durante longo tempo foram a marca da rua.
Agora compartilham suas oficinas com joalherias, lojas de especiarias e objetos decorativos, entre outros.
“Há muitos tempo que trabalham em diferentes setores, mas eu me especializei nos metais antigos e no cobre”, afirmou o dono de antiquário Ahmed Youssef, que herdou de seu pai a loja fundada há meio século.
Esses negócios, passados normalmente de geração em geração, sobrevivem apesar da queda do turismo e da deterioração que sofreu a região após a revolução que derrubou Hosni Mubarak do poder em 2011.
Moradores e trabalhadores como Walid Dardiri, vendedor de lâmpadas, lamentam que os veículos continuem passando pela rua de pedra, congestionando-a e incomodando os transeuntes.
“A rua deveria ser para passear, para os turistas; por isso queremos fechá-la para o trânsito”, aponta Dardiri, que não esconde o seu apego ao bairro.
O vendedor de joias Mustafa Mohammed lembra com nostalgia dos dias nos quais – segundo disse – havia “silêncio” e não existia “tanta concorrência desleal” entre companheiros.
E, embora não tenha vivido nessa época, também se lembra de como no passado as portas da parte antiga se fechavam e só os moradores ficavam em seu interior.
Coroada no alto pelas portas de estilo medieval Al Futuh e Zuweila, a rua Al Moez inspira esse tipo de pensamentos e dá asas à imaginação sobre essa época complexa da história egípcia.
Os novos no lugar também ficam maravilhados sob o feitiço de suas luzes.
“É a primeira vez que a visito e me parece muito histórica e limpa, comparada com as demais ruas egípcias. Não sei por que, mas o ambiente é mágico e pacífico”, destaca Ayah el Adi, um estudante de Alexandria com curiosidade pela vida do Cairo islâmico. EFE
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