Chuva pode atrapalhar escolas, mas tornar jurados mais “bonzinhos”

  • Por Bruno Landi/Jovem Pan
  • 25/02/2017 00h45
Rainha da bateria da Tom Maior WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO Tom Maior volta ao grupo de elite homenageando Elba Ramalho

O temporal que atingiu a cidade de São Paulo no fim da tarde desta sexta-feira não preocupou apenas motoristas e pedestres que perambulavam pelas ruas paulistanas. Carnavalescos, passistas e ritmistas também coçaram a cabeça.

Chuva e carnaval, definitivamente, não combinam.

A água que cai do céu transforma a avenida em sabão, e fantasias, em chumbo. Mas, não necessariamente, tem o poder de comprometer o desfile de uma escola a ponto de fazê-la perder as chances de conquistar o carnaval. Somada ao bom-senso dos jurados, a tecnologia empregada pelas agremiações na confecção de alegorias e fantasias impede que um fator como a chuva tenha força suficiente para decidir o título da festa mais popular do Brasil.

“Em 1980, eu ainda atuava pela minha escola, o Camisa Verde e Branco… E nós conseguimos perder um carnaval para a Mocidade Alegre, que desfilou debaixo de uma água que chegava a dar dó. Então, não tem diferença. Jurado não leva isso em consideração. Ele só avalia o que é de direito dele. Se uma escola desfilar bonita debaixo de chuva, leva o carnaval do mesmo jeito”, explicou Antônio Pereira da Silva, o Mestre Zulu – responsável por comandar a apuração do carnaval paulistano desde 1993.

Os impactos da chuva, no entanto, existem. Em contato com a água, fantasias e alegorias perdem brilho e ganham peso. Cruzar a avenida, nestes casos, pode ser um verdadeiro martírio. “As fantasias já são pesadas. Com a chuva, elas ficam ainda mais. Quem sofre mais são as baianas. Quando chove, aquelas armações que elas carregam ganham um peso absurdo. É uma judiação”, exemplificou Maria Aparecida Urbano, historiadora, escritora e lendária carnavalesca de São Paulo.

Nada, porém, que a tecnologia já não tenha amenizado. “Hoje, há plumas artificiais, e isso facilita muito. Porque, se uma pluma natural recebe essa carga de chuva que caiu hoje em São Paulo, por exemplo, acabou. Não tem. Compromete muito o visual da escola, o que pode provocar a perda de pontos”, argumentou Zulu.

Os descontos, porém, só acontecem mediante minuciosa análise dos jurados – que são orientados a medir o quanto a chuva castigou fantasias e alegorias no momento de deliberar as notas. O bom senso deve falar mais alto, e as avaliações não podem fazer as agremiações pagarem pela água que caiu do céu.

“A chuva não é uma coisa esperada. E, muitas vezes, não cai para todas as escolas. Então, o jurado precisa levar isso em consideração na hora de dar as notas”, afirmou Urbano. “Quando eu ministrava aula para jurados, sempre falava que eles tinham de ter um pouco de consciência e bom senso para entender o mal que a chuva havia feito para a escola. Esse mal tem de ser relevado na hora da avaliação”, finalizou.

A chuva que castigou a cidade de São Paulo nesta sexta-feira cessou horas antes do início dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial. Ela, no entanto, deve voltar a cair no próximo sábado, dia em que as últimas sete agremiações vão cruzar o sambódromo do Anhembi.

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