Cineasta português Manoel de Oliveira completa 106 anos

  • Por Agencia EFE
  • 11/12/2014 17h33

Antonio Torres del Cerro.

Lisboa, 11 dez (EFE).- Testemunha do cinema mudo, o diretor português Manoel de Oliveira completa 106 anos nesta quinta-feira, celebrado na Europa e no Brasil e com o privilégio de ser o cineasta veterano mais ativo do mundo.

Manoel de Oliveira, autor de mais de 60 obras entre documentários filmes, curtas e longas-metragens, comemorou suas 106 primaveras na intimidade do lar, com a presença da imprensa local, que curiosa, que se pergunta o segredo de sua longevidade.

A título de homenagem, foi promovida nesta quinta-feira no Porto, cidade natal do reconhecido cineasta, a estreia uma de uma de suas produções mais recentes, “O Velho do Restelo”, que ainda não está em exibição nas salas de Portugal.

O média-metragem estreou em setembro no Festival de Veneza, e consiste em uma reflexão sobre a história portuguesa, um de seus temas prediletos, através da interpretação de textos de Luís de Camões, Miguel de Cervantes, Teixeira de Pascoaes e Camilo Castelo Branco.

A produtora e distribuidora Meças Filmes, responsável pela homenagem, escolheu outras três produções de diferentes fases do autor para o tributo: o documentário mudo “Douro, Faina Fluvial” (1931) e os filmes “O Pintor e a Cidade” (1956) e “Painéis de São Vicente de Fora – Visão Poética” (2010).

Cada vez mais absorvido pelo trabalho cinematográfico, Manoel de Oliveira venceu seus problemas de saúde precisamente em função deste amor à sétima arte, que começou nos anos 20.

Nascido na cidade do Porto no dia 11 de dezembro de 1908, o cineasta, de origem rica, estudou parte do bacharelado em uma colégio jesuíta da Espanha e passou as primeiras décadas de sua vida alternando a paixão pela arte com a de corridas de carros.

Ao lançar, aos 23 anos, seu primeiro documentário, “Douro, Faina Fluvial”, que retrata os trabalhos nas margens do rio Douro – ainda no cinema mudo e preto e branco – com uma estética influenciada pelo então em voga cinema soviético, o autor iniciou uma longa carreira nas artes, com altos e baixos, na qual alternou vários gêneros cinematográficos.

Dez anos após o lançamento de seu primeiro documentário, Manoel de Oliveira filmou o longa-metragem, “Aniki-Bóbó” (1941), uma singela história que narra a disputa de dois meninos para conquistar o amor de uma menina.

Este filme, que tem o rio Douro como cenário, foi considerado precursor do neorrealismo italiano, gênero que marcou tendência após a Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Com Portugal imerso no opressor regime de António de Oliveira Salazar, o cineasta viveu seu maior recesso criativo, passando por um período de 14 anos sem produzir, em função da censura e das dificuldades para encontrar financiamento.

Entretanto, em meados dos anos 50, Manoel de Oliveira retomou sua atividade cinematográfica, mas foi em 70 que iniciou sua vertiginosa produção, adaptando dezenas de obras literárias de escritores e poetas portugueses.

Ao lado do também português Paulo Branco como produtor, Manoel de Oliveira se tornou reconhecido internacionalmente, arrancando aplausos da crítica em função da forma reflexiva e pausada como reflete sobre as inquietações humanas, no entanto, o cineasta nunca chegou a emplacar um grande sucesso de bilheterias, se mantendo restrito aos círculos intelectuais.

A distinta obra “Francisca” (1981) inaugurou a etapa na qual suas obras começaram a receber prêmios nos mais importantes festivais internacionais, tais como o Leão de Ouro do Festival de Veneza (1985), seguido por prêmios em Cannes (2008) e Berlim (2009).

O diretor português deslumbrou então a atores do porte de John Malkovich, Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni, em filmes como “O Convento” (1995) e “Viagem ao princípio do mundo” (1997).

A universalidade da obra de Manoel de Oliveira está refletida em filmes como “A Divina Comédia” (1991), “Não, Ou a Vã Glória de Mandar” (1990) e “Um Filme Falado” (2003), onde aborda desde a tradição bíblica até filosofia de Nietzsche.

“Sua obra representa uma contínua reflexão sobre o cinema, sobre o ato de olhar, sobre a harmonia entre a palavra e a imagem”, explicou à Agência Efe o crítico espanhol Francisco Jiménez, especialista em cinema português.

Segundo o pesquisador e crítico português José Matos Cruz, a contribuição do cineasta humanista católico, mas também admirador de um iconoclasta como o espanhol Luis Buñuel, tem duas claras vertentes, a preservação tanto do imaginário cultural português como da memória do século passado: seus maiores legados. EFE

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