“Concorrer com a Pixar pelo Oscar é um David contra Golias”, diz Alê Abreu
"O Menino e o Mundo" e "Divertidamente" competem pelo Oscar de Melhor Animação
O Menino e o Mundo e "Divertidamente"O diretor brasileiro Alê Abreu afirmou nesta sexta-feira que seu filme “O Menino e o Mundo”, indicado ao Oscar de melhor longa-metragem de animação, tem chances de vencer a estatueta, apesar de comparar a disputa com o favorito “Divertida Mente”, da Pixar, a uma “luta de David contra Golias”.
“Nada é impossível, mas é como uma criança de US$ 500 mil lutando contra um gigante de US$ 200 milhões”, disse Abreu em entrevista coletiva realizada hoje em São Paulo, um dia depois da indicação. O cineasta afirmou que, além disso, a Pixar terá pelo menos três vezes o orçamento gasto em “O Menino e o Mundo” para divulgar “Divertida Mente”.
Mesmo assim, o diretor acredita em sua história, que narra a aventura de um menino que deixa seu lar em busca de seu pai, um filme de traços simples e cores vibrantes que já venceu 45 prêmios e com o qual Abreu reflete “sobre as angústias enfrentadas por muitas pessoas jovens, o desemprego, por onde caminha o mundo”.
Abreu soube da indicação ao prêmio mais importante do cinema enquanto estava de férias na serra. Mas, curiosamente, não se surpreendeu com a notícia. “Sempre pensei que nossas possibilidades eram muito pequenas e que seria um milagre que nos indicassem para o Oscar, mas ontem acordei com a sensação, com a intuição, de que seríamos selecionados”, revelou o diretor.
Para ver se a sorte se repete, Abreu brincou: “talvez eu volte à serra e veja a cerimônia pela internet”.
Apesar de considerar que o “O Menino e o Mundo” tem chances de vencer a estatueta, Abreu reconhece que seu filme está longe do predominante na “indústria comercial” da animação e da “estética padrão das atuais produções”. “Que um anti-indústria ganhe o maior prêmio da indústria seria algo raro”, exclamou entre risos.
Quase sem diálogos (os poucos que existem estão em “português ao contrário”), o longa “comunica muito facilmente e chega por outra porta ao entendimento das pessoas. “A intensidade com a qual ele atinge as pessoas de todas as idades fez com que o filme seja muito forte e universal”, explicou o diretor.
Com 44 anos e após mais de três décadas envolvido no mundo da animação, Abreu defende que o Brasil está vivendo um “boom” de novos animadores. “Há uma geração mais jovem que conta com um diferencial e conseguiu superar o grande desafio que representa fazer uma animação brasileira”, destacou o cineasta.
Abreu afirmou que, ao contrário de outros lugares como a Índia e a Coreia do Sul, o Brasil sempre se negou a ser o “braço barato de fazer filmes de outros países”. “Do mesmo modo que a França, Japão e Estados Unidos descobriram uma forma de fazer animação, nós temos que descobrir a nossa. E, talvez, eu tenha dado um pequeno passo nessa direção”, destacou.
O diretor disse que ficou incomodado por também ter que ser o produtor de “O Menino e o Mundo”, pois a tarefa lhe tirou “50% da energia que precisava para dirigir”. O filme teve orçamento inicial de R$ 1,5 milhão e foi lançado com mais R$ 500 mil. “Fiz o filme completamente livre, sem pressões do mercado, e espero que minha carreira continue com essa liberdade”, afirmou.
Abreu já está trabalhando em seu novo projeto, “Viajantes do Bosque Encantado”, uma história sobre dois filhos de animais de reinos rivais, perdidos em uma floresta hostil, que descobrem seu maior desafio: serem amigos. Um filme que, segundo o cineasta, “lembra a relação entre judeus e palestinos”.
“O Menino e o Mundo” estreou há dois anos, mas a distribuidora americana GKids, que contava então com “filmes muito potentes”, segundo Abreu, decidiu deixar a animação brasileira para a edição de 2016 do Oscar, que será celebrada no próximo dia 28 de fevereiro.
Além de “Divertida Mente”, “O Menino e o Mundo” terá como rivais “Anomalisa”, “Shaun: O Carneiro” e “Quando Estou com Marnie”.
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