Corpo do escritor João Ubaldo Ribeiro é enterrado no Rio
Amigos e parentes deram adeus hoje (19) ao escritor e jornalista João Ubaldo Ribeiro, que morreu aos 73 anos, de embolia pulmonar.
O corpo do romancista foi enterrado às 10h, no Mausoléu dos Imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. A cerimônia durou cerca de meia hora.
O corpo de João Ubaldo foi sepultado com o fardão dos imortais da ABL, da qual ele era membro, sobre uma camiseta de Itaparica, a cidade baiana onde o escritor nasceu em 23 de janeiro de 1941.
Filho de João Ubaldo diz que pai estava escrevendo livro sobre histórias de bar
O caixão foi aberto apenas para que a viúva, Berenice, se despedisse dele, ao lado dos filhos Bento e Francisca e Manuela e Emília, do primeiro casamento do romancista. Depois de fechado, a família colocou sobre o caixão uma camiseta do bloco Areia, que no carnaval desfila pelas ruas do Leblon, bairro onde o escritor morava e costumava seguir o bloco.
Bento Ribeiro disse que, no cotidiano, o pai era divertido e sarcástico e que isso o influenciou. “Posso ter pegado muito dele, até involuntariamente, por conviver com ele. Muito sarcasmo dele, das colocações, do humor. Mesmo que involuntariamente, eu pegava muita coisa, até porque sou filho e tenho traços da personalidade dele. Ele era bem engraçado na convivência.”
Para o poeta, letrista e roteirista Geraldo Carneiro, um dos amigos presentes ao enterro, a entrada de João Ubaldo na ABL, onde ocupava a Cadeira 34 desde 7 de outubro de 1993, levou um pouco de informalidade à academia. “A academia é mais constrita e se atém mais ao aspecto obra, enquanto João, além de ter essa obra admirável, tem uma vida cheia de aventuras. Então, acho que ele amplifica e amplia este espaço da correlação entre vida e obra”, explicou.
Poeta Geraldo Carneiro destaca complexidade da obra de João Ubaldo
Ao destacar as obras do escritor, Geraldo Carneiro apontou logo Viva o Povo Brasileiro e Sargento Getúlio. “[Viva o Povo Brasileiro] é um livro absurdo, composto de 500 personagens e dez épocas históricas. Todas se entrelaçando em um sistema de migrações. É um livro completamente louco. Não sei nem se o próprio João Ubaldo – ele já me confessou isso – o compreendeu completamente. É um livro de uma complexidade maravilhosa.” Para o poeta, dificilmente se fará um livro tão rico e aberto a interpretações na literatura brasileira.
Antes do sepultamento, o corpo de João Ubaldo foi velado no Salão dos Poetas Românticos, na ABL. O secretário-geral da instituição, Domício Proença Filho, representou o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, na cerimônia religiosa e homenageou o colega. “João Ubaldo se despede de nós deixando uma lembrança amiga”, disse Proença.
Muito emocionada, a filha Manuela chegou hoje cedo a tempo de participar do velório. Ela mora na Alemanha e, por isso, o sepultamento foi marcado para hoje. Manuela preferiu não dar declarações sobre o pai. A missa foi celebrada pelo monsenhor Sérgio Couto, capelão do Outeiro da Glória.
Editor Nádia Franco
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