Diretor argentino Damián Szifrón afirma que fazer cinema “já não é difícil”
Alba Gil e Pablo Giuliano.
São Paulo, 16 out (EFE).- “Fazer cinema já não tão é difícil”, sentenciou nesta quinta-feira o diretor argentino Damián Szifrón, no lançamento de “Relatos Selvagens” no Brasil, ao afirmar que a chave do sucesso de um diretor é “escrever um bom roteiro” que fuja da necessidade de superproduções.
“Relatos Selvagens” abriu a 38ª Mostra de Cinema de São Paulo, que este ano homenageia o cinema espanhol e especialmente Pedro Almodóvar, um dos produtores do filme de Szifrón.
Szifrón, um dos mais importantes nomes da nova geração de diretores argentinos, defendeu, em declarações à Agência Efe, a chance de fazer cinema “aqui e agora” muito por causa do avanço dos equipamentos tecnológicos.
“A dificuldade de fazer cinema passa por um bom roteiro que não exija uma megaprodução. Hoje em dia qualquer um tem acesso a uma câmera medianamente decente, a dispositivos móveis e computadores com programas de edição, que são os mesmos utilizados em nível industrial”, comentou.
O diretor de “Tiempo de Valientes” (2005) e da série “Os Simuladores” (2002) disse que os incentivos oficiais ao cinema são positivos, mas alertou que não devem ser um condicionante: “Um cineasta não pode jogar a culpa de nada em ninguém, mas fazer o que pode com as ferramentas que tem”.
“Relatos Selvagens”, que tem Ricardo Darín como protagonista, chega às salas brasileiras após fazer parte da seleção oficial do Festival de Cannes e ser indicado pela Argentina para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Mas para Szifrón, “a lógica competitiva” não deve invadir o mundo das artes porque “afinal de contas a gente se recorda dos filmes que gostou, não dos que ganharam mais prêmios”.
“Relatos Selvagens” é composto de um prólogo e cinco histórias independentes entre si que têm em comum pessoas que perdem o controle diante de situações injustas, e é fruto da imaginação de Szifrón.
Aos 39 anos, o diretor escreve seus roteiros sem ter ideia de qual será o final, mas sempre pensando que o receptor será o grande público, imaginando uma sala cheia de gente. O método parece funcionar. Só na Argentina o longa foi visto por três milhões de pessoas.
“Conheço muito bem essa poltrona. Antes de ser diretor fui, e sou, espectador desde os três anos”, enfatizou Szifrón, fã de filmes como “Contato na França”, “As pontes de Madison”, “O Poderoso Chefão” e “Tubarão”.
Szifrón defendeu que a arte seja executada em qualquer uma de suas formas, sem importar o tamanho do sucesso ou dos resultados concretos, como fama e dinheiro.
“A relação da classe média com a arte é a seguinte: o artista que é bem-sucedido é considerado melhor inclusive que um médico, que um cientista. Mas se não vai bem, é um vagabundo que está perdendo o tempo”, analisou.
E deu como exemplo o astro argentino Lionel Messi, que porque causa do talento, da fama e da fortuna, precisa lidar com partes obscuras do sucesso.
“Francamente, não sei se Messi é extremamente feliz. Tiram fotos o tempo todo, pedem autógrafos em todos os lugares, tem milhões de assessores dizendo onde pôr seu dinheiro, se as ações da Petrobras subiram”, continuou.
Perguntado sobre a admiração do Brasil pelo cinema argentino, ele afirmou que “não parece bom comparar uma nação com a outra, porque o cinema é feito por apenas uns poucos indivíduos”, e elogiou os diretores brasileiros Walter Salles, Fernando Meirelles e José Padilha.
Szifrón disse que gostaria de ver mais filmes brasileiros nas salas argentinas e defendeu a produção local como método de identificação de cada país com seus atores, sotaques e formas de ser.
“Na Argentina, o mesmo roteiro de um filme, protagonizado por Darín, tem mais chances de sucesso do que a mesma história interpretada por Tom Cruise ou George Clooney”, explicou. EFE
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