Elvis, Michael Jackson, Prince… artistas estão mais sujeitos ao vício em remédios?
25 de julho de 2009. O mundo recebe a triste notícia da morte de Michael Jackson. Aos 50 anos, o rei do pop sofreu uma parada cardíaca em sua casa, em Los Angeles, devido a uma overdose de propofol, um poderoso anestésico que o ajudava a dormir.
21 de abril de 2016. Prince é encontrado desacordado na casa onde morava, no estado norte-americano de Minnesota. Quando foi socorrido, o cantor já estava morto. Segundo a autópsia oficial, Prince sofreu uma overdose do analgésico fentanil, um opioide extremamente potente, da mesma classe da morfina e da heroína.
Michael e Prince – dois indiscutíveis astros da música pop – não foram os únicos que morreram por abuso de medicamentos. Em 1962, Marilyn Monroe ingeriu barbitúricos em excesso e faleceu aos 36 anos. Em 1977, Elvis Presley sofreu uma parada cardíaca fatal, decorrente do uso abusivo de remédios para dormir. Em 2008, depois de interpretar um Coringa notável em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, Heath Ledger foi encontrado morto em seu apartamento, aos 28 anos, por uma overdose de diversos medicamentos, entre eles oxicodona e diazepam.
Dependência de medicamentos: problema de famosos e anônimos
A lista de artistas que sucumbiram ao vício em medicamentos é extensa. Mas existe alguma explicação para isso? A psiquiatra e homeopata Dra. Cecilia Grandke afirma que o estilo de vida das celebridades pode aumentar a propensão à dependência química. “Eles passam por uma exposição muito grande que pode gerar estresse e, consequentemente, uma busca de substâncias para aplacar sentimentos de desprazer”. O psicólogo Fabio Roberti acrescenta que a sensibilidade inerente aos artistas também é um fator a ser levando em conta. “Alguns sofrem mais com a frustração, o assédio e outras questões pessoais, e acabam recorrendo aos remédios”, diz.
Apesar de os artistas apresentarem personalidades que sugerem maior propensão à dependência de drogas, é importante ressaltar que o problema não se restringe a esta classe. No Brasil, estudos mostram que a cultura do remédio é assunto sério: segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), somos um dos cinco maiores consumidores de medicamentos do mundo; de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, somos o segundo país que mais consome ritalina. E vale lembrar que, no período em que os inibidores de apetite à base de anfetaminas eram comercializados livremente, ocupávamos o topo do ranking, conforme relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) divulgado três anos antes da proibição, oficializada em 2011 pela Anvisa.
Os motivos para o consumo de cada uma das drogas citadas não são os mesmos – a grande procura por ritalina deve-se ao uso no tratamento de transtorno de hiperatividade para jovens, enquanto o sucesso de vendas dos inibidores de apetite denunciava a obsessão do brasileiro pelo corpo perfeito. Não obstante, “a estrutura social de consumo excessivo à qual estamos inseridos engloba também os medicamentos”, analisa Cecilia.
As inúmeras propagandas reforçam o poder da indústria farmacêutica no País, e a automedicação, tão comum por aqui, também é um aspecto marcante da cultura do remédio. A psiquiatra observa que os medicamentos são um recurso para ajudar as pessoas, mas os critérios para uso devem ser rigorosos. “A maioria dos problemas da vida não se resolvem com medicamentos. Temos práticas orientais, exercícios físicos que liberam endorfina”, diz. “A grande questão é não usar os medicamentos fora da finalidade. Temos os recursos internos para ficarmos bem”, completa Cecilia.
Quais motivos levam à dependência?
Para Fabio Roberti, compreender como questões pessoais podem influenciar na dependência química é ainda mais relevante do que fatores externos como fama e exposição. “Introvertidos, ansiosos, inseguros ou impulsivos tem uma tendência maior. Buscam o medicamento para serem menos limitados em seus comportamentos”, afirma. Marcos Correa, de 22 anos, livre da dependência de benzodiazepínicos há 4 meses, revela que a ansiedade o levou ao vício: “Eu queria dormir tranquilo, ficar mais calmo. O efeito que eu buscava foi crescendo e começou a me afetar, não conseguia interagir com os amigos e ficava aéreo”, conta.
A tolerância, que varia de pessoa para pessoa, também é um aspecto importante em relação à dependência de substâncias. Quando o corpo desenvolve resistência a determinada droga, ela se estende para outras que tenham propriedades farmacológicas parecidas, resultando na chamada tolerância cruzada. Os tolerantes a álcool, por exemplo, metabolizam mais rapidamente barbitúricos e benzodiazepínicos (tranquilizantes ou calmantes). Foi o que aconteceu com Fernando Cardoso*, livre do vício há dois anos e meio. “Eu fiz tratamento do vício em álcool e para auxiliar comecei a tomar o clonazepam, que é o princípio ativo do Rivotril. Só com ele conseguia fazer as atividades do dia a dia, trabalhar. Mas, de um comprimido, passei a tomar cinco, e no momento crítico cheguei a ingerir dez num dia”, lembra.
Cecilia destaca que um elemento determinante na propensão à dependência química são os genes. “O que sabemos hoje em dia é que existe uma questão genética. A gente observa que pessoas que têm familiares que são ou foram dependentes têm maior probabilidade de se tornarem dependentes também. É algo que se manifesta ao longo das gerações”, conclui.
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