Escola de samba mais antiga de Florianópolis leva cultura negra para avenida
A Protegidos da Princesa leva há 65 anos a cultura negra e catarinense para as ruas. “É a escola de samba mais antiga de Florianópolis”, conta Nilo Padilha, vice-presidente do Conselho Deliberativo da escola, sem esquecer nenhum dos 24 títulos conquistados. O primeiro veio em 1949, um ano após a fundação.
Criada por um grupo de amigos marinheiros, em outubro de 1948, o nome da escola é uma referência à princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, abolindo a escravidão no país.
“Há 70 anos, na calçada em que caminhava o branco, não caminhava o negro e vice-versa. Nada melhor que se intitular um grupo, protegido da realeza, o que lhe dava certa blindagem contra a repressão, o racismo e a violência”, explica Cristiana Tramonte, socióloga da Universidade Federal de Santa Catarina e autora do livro O Samba Conquista Passagem, sobre a história das escolas de samba.
Para a socióloga, a escola do Morro do Mocotó também era uma espécie de “cartão de visita” da cultura negra, já que outras manifestações, como a capoeira e as religiosas, não eram aceitas pela sociedade na época. “A escola de samba era pública, aberta e muito atraente, atraiu rapidamente as classes média e alta”.
Atualmente, são cinco escolas no Grupo Especial da cidade, cada uma com uma média de mais de 2 mil pessoas. O grande número de participantes surpreendeu o carnavalesco da Protegidos da Princesa, Raphael Soares, que trabalhava na Beija-Flor, do Rio, está há 11 anos na capital catarinense e ressalta a participação: “Todo mundo junto e misturado, negros e brancos”. Em sua trajetória, a escola contou a história de personagens catarinenses e nacionais, como o poeta Cruz e Souza e o compositor Zininho. Este ano, o homenageado é o artista plástico Willy Zumblick, que viveu em Tubarão (SC).
A produtora do grupo de samba Novos Bambas, Juçara de Assis, não perde um ensaio das agremiações. “A escola de samba é a oportunidade para mostrar o folclore, o Brasil da África, o jeito de dançar, o sorriso”.
Na Protegidos da Princesa, a comunidade é responsável pela maior parte da confecção dos carros alegóricos e das fantasias, além do trabalho de resgate da Velha Guarda. Para a socióloga Cristiana Tramonte, a participação da comunidade não deve ficar restrita a algumas atividades, como a bateria. “A cultura negra tem que ser o viés da escola de samba, porque é isso que dá vida, beleza e importância”.
Editor Carolina Pimentel
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