Exposição sobre ditadura faz público refletir sobre liberdade

  • Por Agencia Brasil
  • 05/04/2014 11h22

Dentro da programação da Comissão Estadual da Verdade pelos 50 anos do golpe militar de 1964, a Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase) está apresentando, até 30 de  junho, no centro cultural da instituição, a exposição Fica Decretado que Agora Vale a Verdade. A entrada é gatruita ao público, que poderá visitar e participar da mostra de segunda-feira a sábado.

O título da exposição traz o primeiro verso do poema Os Estatutos do Homem, do poeta amazonense  Thiago de Mello. Preso durante a ditadura, Mello exilou-se no Chile, retornando ao país após o fim do regime militar. “A poesia é uma norteadora do projeto”, esclareceu à Agência Brasil  o coordenador de Projetos e Extensão da FMP/Fase, Ricardo Tammela.

“Como nós optamos por trabalhar o conceito da liberdade em contraposição ao golpe militar, Os Estatutos do Homem do Thiago acaba sendo  esse norte, o roteiro. E as instalações acabam se inspirando na poesia”, disse Tammela.

A exposição inclui instalações audiovisuais e atividades interativas. A primeira instalação é composta de painéis com lenços que remetem  aos lenços usados  pelas pessoas para enxugar as lágrimas pela perda de  entes perdidos. Cada lenço tem um trecho de músicas da resistência,  compostas durante a  ditadura, ou trechos de depoimentos dados para a Comissão da Anistia por  presos que foram torturados. “Para você acessar a instalação,  há uma trama de elástico, como se fosse uma cama de gato [jogo do barbante]. Você precisa mexer no elástico para conseguir entrar da instalação, como se você  estivesse vencendo as resistências que te fazem seguir adiante”, informou o coordenador.

A segunda instalação é uma sala escura, onde  se ouve,  sendo declamada,  toda a poesia de Thiago de Mello. No meio do caminho, há um monitor de televisão que fica passando imagens que representam os  50 anos do golpe militar. “Em cada canto da sala tem uma silhueta alegoricamente amarrada. As quatro  silhuetas estão divididas em foto, nome, organização política e data de cada um dos desaparecidos na Casa da Morte, em Petrópolis, totalizando 32 pessoas”, disse Tammela.

Na terceira instalação, o visitante “sai do sufoco que a sala escura provoca” e é convidado a deixar a sua reflexão sobre liberdade, sobre o que ele tem feito  para a liberdade, qual é a causa que defende, o que ele pensa dos tempos atuais, a partir de uma leitura crítica desse período da história brasileira.

Durante o tempo inteiro, o público interage com a mostra. Ricardo Tammela explicou que a ideia foi fugir da metodologia expositiva tradicional, que trabalha  a ordem  cronológica dos fatos. Ele optou,  então, por fazer uma exposição opinativa. “Ela é uma crítica à ditadura, mas é uma crítica que convida as pessoas a refletir e a fazer essa ponte com o tempo atual. Essa foi nossa preocupação”.

O coordenador de Projetos e Extensão da FMP/Fase analisou que a liberdade que se vivencia hoje no Brasil ainda é muito frágil, na medida em que  há grupos que  não têm acesso aos direitos, sofrem violência e perseguição porque fizeram  alguma opção diferente na vida, seja religiosa, afetiva, entre outras.  O material utilizado na exposição foi cedido pela Comissão Estadual da Verdade. Segundo Tammela, a mostra reforça também o movimento pela transformação da Casa da Morte de Petrópolis em um centro de referência da memória da ditadura.

O centro cultural da FMP/Fase fica localizado na Avenida  Barão do Rio Branco, número 1.003, no centro do município, na região serrana fluminense.

Editor Fábio Massalli

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