Festival de arte urbana revitaliza forte militar na periferia de Paris

  • Por Agencia EFE
  • 15/07/2014 10h17
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Marta Rodríguez Martínez.

Paris, 15 jul (EFE).- Escondido entre a vegetação e a má reputação dos arredores de Paris, o Forte de Aubervilliers se transformou em um efêmero museu ao ar livre durante o festival In Situ, onde mais de 50 artistas de rua trabalham sob a temática comum da transformação.

Neste caso, caminhonetes abandonadas, carros corroídos e muros de tijolos servem como telas para os artistas que vieram de diferentes partes do mundo com um único objetivo: mudar a história deste renegado terreno da periferia parisiense.

Em entrevista à Agência Efe, o urbanista francês Olivier Landes explicou que modelar o passado e o futuro do entorno do Forte de Aubervilliers é um dos principais objetivos do festival In Situ.

Landes, responsável pela organização de arte e arquitetura Art en Ville, confessa que “aproveitaram a mudança de inquilinos” para fundar um festival de arte urbana sem precedentes na Europa e em um lugar com uma história muito pouca artística.

O forte, que Landes descreve como um lugar “secreto, mítico e inquietante”, foi fundado como fortificação militar no século XIX, mas nas últimas décadas abrigava as instalações de uma empresa de desmanche de automóveis e de outra de serviço de guindastes.

Na atualidade, o local se encontra desocupado, mas a sociedade francesa AFTRP planeja uma importante transição urbanística na região, com a edificação de um bairro ecologicamente sustentável, objetivo que também inspira os murais dos artistas.

O mural de um capacete militar do qual brota vegetação relembra os anos de guerra na Europa, nos quais o Forte de Aubervilliers tinha a função de proteger o nordeste de Paris perante o avanço das tropas da Alemanha, mas também estabelece uma metáfora sobre esse renascer da região.

Outro exemplo do simbolismo das obras é a pintura do rosto de uma mulher através de traços coloridos, que adianta a futura chegada de novas moradoras a um entorno historicamente masculino de militares e mecânicos.

Outra intervenção artística memorável é o monumental mural do artista cubano Jorge Rodríguez Gerada, que imortaliza o rosto de uma moradora do bairro sobre a superfície de 1,4 mil metros quadrados de um antigo estacionamento.

Rodríguez se fixou nos traços de Nicole Picquart, uma mulher aposentada que colabora como voluntária em trabalhos de integração de imigrantes na França, porque buscava representar “um personagem anônimo com impacto em uma população complicada”.

O artista se identificou especialmente com o trabalho social de Picquart, já que, devido a sua infância nos Estados Unidos, conhece bem as dificuldades de adaptação que as famílias emigrantes sofrem.

Seus trabalhos, segundo indicou à Efe, “não são homenagens a reis e nem a políticos, e também não são feitos para ficar como o túmulo de Napoleão”. Rodríguez diz que sua obra fala de “gente que faz coisas do bem e na atualidade”.

A declaração do artista cubano parece seguir a filosofia do festival, que apagará as obras após o término do período de exposição, o que, segundo Landes, “não é nenhum drama”, levando em conta o caráter efêmero da arte urbana.

“Não são para durar, mas para chamar a atenção das pessoas que estão aqui agora”, ressaltou o organizador.

Atrair visitantes para um festival de arte urbana em uma cidade que conta com mais de 150 museus é tarefa complicada; ainda mais se os murais estiverem em um terreno abandonado da temida periferia parisiense.

No entanto, este espaço de exposição atípico conseguiu atrair um total de 13 mil visitantes desde sua abertura, no último dia 17 de maio, e que seguirá engrossando este número até seu encerramento, adiado até o final do mês.

Esse suposto êxito também anima os organizadores, que esperam que a arte urbana faça do Forte de Aubervilliers um lugar cheio de cor após sua transformação. EFE

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