Festival de Berlim revela alma do operário que tentou matar Hitler

  • Por Agencia EFE
  • 12/02/2015 15h09
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Gemma Casadevall.

Berlim, 12 fev (EFE).- O Festival de Berlim entrou nesta quinta-feira na reta final com a história de Georg Elser, o simples operário que tentou assassinar Adolf Hitler meses depois do começo da Segunda Guerra Mundial e expoente de uma resistência solitária diante da monstruosidade do regime nazista.

“Elser: 13 minutos”, dirigido pelo alemão Oliver Hirschbiegel, foi o prato principal do dia, exibido fora de competição, mas na seção oficial, enquanto a única participante do dia foi a italiana “Vergine Giurata”, da diretora estreante Laura Bisputi.

“Foi um visionário ou um herói. Um jovem que poderia ter se dedicado a desfrutar de seu sucesso com as mulheres, mas que teve culhões de agir”, explicou Hirschbiegel, que volta a falta sobre o nazismo dez anos após recrear os últimos dias de Hitler em seu bunker em “Der Untergang” (“O afundamento”),

Christian Friedel interpreta esse jovem, músico, amante de uma mulher casada, aprendiz de relojoeiro e operário de uma fábrica metalúrgica onde alguns de seus amigos, militantes comunistas, acabaram sendo escravos do nazismo.

Os 13 minutos do título são os que faltaram para conseguir seu objetivo: que a bomba-relógio colocada sob a tribuna onde Hitler discursaria, em 8 de novembro de 1939, em uma cervejaria de Munique, explodisse exatamente quando o Führer pronunciasse seu discurso.

O destino quis que o ditador antecipasse sua saída e que em seu lugar morressem várias pessoas – alguns empregados da cervejaria, enquanto Elser foi detido e torturado, na busca de uma confissão completa sobre quem estava por trás do atentado.

“É um personagem um pouco desconhecido em comparação com outros ícones da resistência contra Hitler”, indicou o diretor em referência à conspiração de oficiais nazistas impulsionada por Claus Schenk zu Stauffenberg, que anos depois, em julho de 1944, falhou também na tentativa de matar Hitler.

O investigador do Terceiro Reich encarregado do caso de Elser, Arthur Nebe, acreditou na versão do jovem, que sustentava não ter cúmplices nem militar no Partido Comunista, apesar de a Gestapo estar muito empenhada em que “confessasse” o contrário.

Hirschbiegel plantou um vínculo entre o fracassado magnicídio sozinho do jovem do sul da Alemanha e a conjuração de aristocratas e oficiais, através a figura de Nebe, executado após o fracasso do atentado liderado por Stauffenberg.

Elser passou anos no campo de concentração de Sachsenhausen e morreu executado no de Dachau em abril de 1945, poucas semanas antes da queda do Terceiro Reich.

Sua figura ficou à sombra da conjuração da elite militar de Stauffenberg ou da resistência pacífica dos irmãos Sophie e Hans Scholl, que inspiraram o filme “Uma Mulher Contra Hitler”, de Marc Rothemund, lançado no Festival de Berlim de 2005.

Hà apenas três anos foi inaugurado um monumento a Elser, uma silhueta de aço do rosto do jovem de 17 metros de altura, instalada a poucas quadras da sede da Festival de Berlim.

Foi um reconhecimento “algo tardio” para alguém que poderia ter mudado o rumo da história e que é um “exemplo de coragem cívica”, nas palavras de Hirschbiegel, diante da grande maioria que não viu como a Gestapo estava arrastando os judeus de suas casas e inimigos do regime nazista.

Seu filme apresentou a dose de incursão na história do nazismo, grande ou pequena, obrigatória em toda edição do Festival de Berlim.

A seção competitiva se limitou a “Vergine Giurata”, dirigido pela estreante Laura Bispuri entre Itália e Albânia, que mostra uma tradição ancestral do universo rural albano, no qual algumas jovens renunciam a sua feminilidade e juram se manter virgens, e passam a se comportar e se vestir como homens.

Esse é o caso de Hana – ou Mark – que desceu das montanhas albanesas para a Itália para começar aí um processo de libertação de um juramento que na realidade a condenou a se comportar como um ser assexuado.

“Vergine Giurata” chegou ao festival entre recomendações entusiásticas do diretor da Festival de Berlim, Dieter Kosslick. Seu formato de cinema de baixo orçamento, de uma diretora estreante e sobre personagens femininos fortes dá certa áurea de “premiável”, ainda mais favorecida pela ótima interpretação da protagonista, Alba Rohrwacher. EFE

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