Filho de Pablo Escobar defende fim da guerra global contra as drogas

  • Por Agencia EFE
  • 16/06/2015 21h24

Rafael Salido.

Rio de Janeiro, 16 jun (EFE).- O filho do traficante Pablo Escobar, Juan Pablo Escobar Hainaut, afirmou nesta terça-feira ser partidário do fim da luta global contra as drogas após 40 anos de “evidentes e contundentes” fracassos nesta guerra.

“A guerra fez com que pessoas como meu pai tenham se dado ao luxo de subjugar todo um país pela via da violência e da corrupção”, disse Juan Pablo à Agência Efe em entrevista concedida no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro por ocasião da publicação no Brasil de seu livro “Pablo Escobar – O Meu Pai”, publicado pela editora Planeta.

O escritor principiante se mostrou pouco esperançoso de que a atual política global contra as drogas possa pôr fim ao que considera um “problema de saúde pública”, já que sempre aparecerão pessoas como seu pai, dispostas a “desafiar e a subjugar todas as democracias que sejam necessárias”.

De acordo com Juan Pablo, que durante anos adotou no exílio o nome de Juan Sebastián Marroquín Santos, um exemplo “desproporcional” dessa guerra poderiam ser as 3.000 pessoas que morreram na Colômbia para “encontrar um só homem”, seu pai.

Depois de mais de 20 anos desde a morte de Escobar, seu primogênito assegurou não sentir raiva ou rancor do Estado colombiano, mas lamenta que “combatendo um homem muito violento, terminaram tristemente se parecendo muito com ele”.

Juan Pablo, que há anos vive com sua família na Argentina, se mostrou doído por não poder cultivar a esperança de voltar algum dia a sua terra natal, já que considera que tanto ele, como sua mãe e sua irmã renunciaram ao “direito a viver na Colômbia” por não estarem dispostos “a negociar o amor” por seu pai.

“Não aceito que nos persigam por crimes de meu pai; eu entendo, como diz a lei colombiana, que os crimes não são herdados”, comentou Juan Pablo durante a entrevista de maneira categórica.

O autor, que apresentará amanhã seu livro no Instituto Cervantes de São Paulo e na quinta-feira em Ribeirão Preto, também se mostrou decepcionado com a atitude de sua família paterna.

Segundo relatou, seus parentes por parte de pai estiveram sentados “ao lado” dos chefes do Cartel de Cali, então principal adversário do de Medellín que era dirigido por Escobar, “rogando” para que assassinassem os três familiares mais queridos do famoso traficante: sua esposa (mãe do autor) e seus dois filhos (sua irmã e ele próprio).

É por esta dantesca história que Juan Pablo tem a “absoluta certeza” que foram eles que traíram seu pai e, embora assegure tê-los perdoado, comentou que nunca esqueceu .

“Quando você perdoa se liberta da dor causada por seu algoz, mas quando esquece se corre o risco de que a história se repita”, ressaltou, antes de confirmar que já não tem relação próxima com eles.

Essa traição iniciou uma perseguição que levou o histórico traficante a viver uma fuga que durou cerca de um ano, ironicamente o “melhor” que viveram pai e filho, e que terminaria com sua dramática morte em 2 de dezembro de 1993, quando Escobar caiu em uma emboscada do exercito colombiano.

Falou-se então da histórica localização do chefe do narcotráfico graças ao trabalho de inteligência do exército, mas seu filho tem uma visão muito distinta dos fatos.

“Meu pai já não tinha outro caminho e escolheu esse dia para ser achado pelas autoridades”, afirmou Juan Pablo, que para reafirmar esta teoria sustenta que seu pai quebrou então “sua regra de ouro” ao utilizar um telefone, o que permitiu que as autoridades colombianas o localizassem.

Além disso, como conta em seu livro, Juan Pablo tem “certeza” que não foi o exercito colombiano quem matou seu pai, mas ele mesmo disparou o tiro fatal.

“Ele nos dizia que 14 dos tiros que tinha sua pistola seriam para seus inimigos e que o último guardaria para ele”, lembrou o escritor, que acusou os legistas que fizeram a autópsia em seu pai de mentir porque “tinham sido ameaçados de morte para mudar o relatório”.

Agora, este homem, que viveu uma infância “de fantasia, de conto de fadas”, conta sua versão “crua” do que aconteceu há tantos anos na Colômbia para que as vítimas tenham “acesso à verdade do ocorrido” e que ninguém “invente histórias” a seu filho, o neto do grande traficante que durante anos aterrorizou todo um país. EFE

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