García Márquez, Vargas Llosa e a história de um soco

  • Por Agencia EFE
  • 17/04/2014 19h05
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Mercedes Rojo.

Madri, 17 abr (EFE).- Um soco quebrou, há quase 40 anos, a amizade de Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa, e o incidente deu lugar a uma lenda que engrandeceu, se é que isso é possível, as figuras dos dois escritores, ambos vencedores do Prêmio Nobel de Literatura e gênios das letras latino-americanas.

Os romancistas, que se conheceram na Venezuela em 1967, protagonizaram uma das rivalidades mais famosas no mundo literário desde que, em 1976, no México, Vargas Llosa deu um soco no rosto de seu então amigo na frente de testemunhas.

O motivo da disputa é um mistério desde então porque os escritores mantiveram um histórico pacto de silêncio de cavalheiros. Isso não impede que haja várias versões sobre as causas que teriam provocado o desencontro e a ruptura de uma amizade que não surge com facilidade no mundo das letras.

Rodrigo Moya, amigo de Gabo, publicou em 2007 um artigo e fotos do incidente no mesmo dia no qual o autor de “Cem anos de solidão” completava 80 anos e nas quais aparecia com o olho esquerdo roxo.

Fotógrafo mexicano de origem colombiana, Moya contou que havia registrado a imagem em 14 de fevereiro de 1976, dois dias depois do incidente, porque García Márquez queria ter “uma constância” daquela agressão.

O fotógrafo perguntou então ao escritor o que tinha acontecido, e este foi “evasivo” e atribuiu a agressão “às diferenças” que já eram insolúveis na medida em que o autor peruano “se somava a ritmo acelerado ao pensamento de direita”.

Foi Mercedes Barcha, esposa de “Gabo”, que fez o comentário mais eloquente: “Mario é um ciumento estúpido”, disse ela, segundo o fotógrafo.

“Enquanto os dois casais viviam em Paris, os García Márquez tinham tentado mediar nos distúrbios conjugais entre Vargas Llosa e sua esposa, Patricia, ouvindo suas confidências”, afirmou Moya.

A versão do jornalista hispânico-peruano Francisco “Paco” Igartua, a que mais força ganhou com o passar dos anos, remete também a uma origem em divergências sentimentais entre Vargas Llosa e sua mulher.

O britânico Gerald Martin, em sua biografia “Gabriel García Márquez: uma vida”, dá outra pista para solucionar o enigma: Vargas Llosa disse ao colombiano: “isso é pelo que você disse a Patricia” ou “isso é pelo que você fez a Patricia”.

Ángel Esteban e Ana Gallegos, catedráticos de Literatura da Universidade de Granada e autores de “De Gabo a Mario”, se somam à tese de que a briga foi originada por uma “questão pessoal”, mas sugerem além disso “diferenças ideológicas”.

Vargas Llosa e García Márquez coincidiram nos anos 70 em Barcelona, uma época, segundo Pilar Donoso, filha do autor chileno José Donoso, que foi “especial para ambos”. Lá, os filhos de ambos brincavam juntos e formavam “uma verdadeira família”.

Barcelona é a cidade na qual se cruzam as corridas no plano editorial de García Márquez e Vargas Llosa pelas mãos de Carmen Balcells, a agente mais importante de literatura em língua espanhola.

O catedrático de Filologia Românica da Universidade Complutense de Madri José Manuel Lucía lembrou em entrevista à Agência Efe que nenhum deles abandonou “os serviços nem a amizade” de Balcells, apesar da desavença.

“São muito diferentes”, disse Peter Landelius, um especialista em narrativa hispano-americana que é o tradutor de ambos para o sueco.

Embora a reconciliação tivesse sido “muito desejável” pela “magnitude literária” dos dois, segundo o também especialista em literatura hispano-americana Eduardo Becerra, o certo é que o abraço da reconciliação jamais aconteceu. EFE

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