Imagem de Bob Marley na Jamaica é diferente da conhecida no resto do mundo

  • Por Agencia EFE
  • 06/02/2015 10h31

Natalia Bonilla.

San Juan, 6 fev (EFE).- A imagem que se tem de Bob Marley em sua terra natal é muito diferente da que existe no resto do mundo, onde o cantor não é somente o máximo expoente do reggae, mas também do movimento rastafári, do consumo de maconha e da Jamaica em si.

Assim concordam em apontar diferentes especialistas jamaicanos consultados pela Agência Efe, entre eles Ray Hitchins, professor da Unidade de Estudos de Reggae do Instituto de Estudos do Caribe, da universidade jamaicana de West Indies.

“Enquanto no exterior pensam que Bob Marley é uma superestrela, na Jamaica é visto igual a muitos outros artistas do gênero”, explicou em conversa telefônica este especialista.

“Devemos entender que os jamaicanos não têm a mentalidade de superestrelas. Aqui as celebridades não são colocadas em um pedestal, como ocorre em outras partes do mundo”, acrescentou.

Efetivamente, os jamaicanos são conscientes do valor turístico e promocional que tem a figura do falecido Bob Marley, que nesta sexta-feira completaria 70 anos, e sabem que é seu cidadão mais conhecido em nível internacional.

No entanto, para olhos estrangeiros, são poucos os festejos programados na ilha para homenagear o nascimento de Marley, que morreu aos 36 anos sem ter sequer lançado “Legend” (1984), o álbum de reggae mais vendido de todos os tempos, com mais de 25 milhões de cópias no mundo todo.

Um simpósio no Museu de Bob Marley, com presença de especialistas e parentes nesta sexta, data de seu aniversário, e um grande concerto no dia 7 são os dois únicos grandes atos oficiais programados na Jamaica.

Isso porque, em nível nacional, o cantor jamaicano compartilha o reconhecimento de ser um bom expoente do gênero junto com muitos outros artistas locais, que trataram temas similares em suas letras, como Dennis Brown, Gregory Isaacs, Peter Tosh – que fez parte do The Wailers – e John Holt.

No entanto, a visão do produtor britânico Chris Blackwell ajudou a impulsionar a imagem e música da lenda do reggae, ao distingui-lo dos demais por comercializar suas canções em nível internacional.

“Um dos maiores atrativos da história de Bob Marley é sua própria história: sua origem humilde e como transmitia sua essência, porque isso fez ele se conectar com as massas fora de seu país, enquanto na Jamaica não chamava tanta atenção”, opinou Hitchins.

O especialista em etnomusicologia enfatizou que, com seu primeiro álbum, “Catch a Fire”, Bob Marley e seu grupo ganharam notoriedade ao apresentar canções que desafiavam o status quo em tempos em que existiam múltiplos movimentos de descolonização no mundo.

“Ele era politicamente consciente. Estava antecipado em seu tempo”, disse Hitchins, após destacar o fato de que o músico abordou o assunto da supremacia branca a partir do lançamento de seu primeiro álbum em 1972, justo uma década depois que a Jamaica ficou independente do Reino Unido.

De fato, o cantor foi um dos primeiros artistas de reggae a admitir publicamente que era rastafári, uma religião que promove a supremacia negra e as raízes africanas, e a deixou ver em suas músicas.

Isso talvez não o tenha ajudado a ganhar o público nacional, onde os rastafáris ainda eram discriminados, mas sim em nível internacional, onde pouco se conhecia sobre este movimento.

No julgamento do especialista, Bob Marley é mais famoso agora do que antes de morrer, em 1981, e isso se deve em grande parte à comercialização sistemática – promovida por sua própria família – de sua imagem até transformá-lo em um “sinônimo da Jamaica”.

A venda de camisetas, álbuns e até produtos como café e cannabis sob a marca de Bob Marley são, na opinião de Hitchins, um indício de que sua popularidade continuará em ascensão.

“Seu legado não está completo. Sua influência ainda cresce e se expande. Ainda não alcançou seu máximo potencial”, concluiu o especialista. EFE

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