Irã vive “Idade de Ouro” do rock

  • Por Agencia EFE
  • 30/08/2015 06h59

Álvaro Mellizo.

Teerã, 30 ago (EFE).- O Irã vive nos últimos meses o que foi batizado por seus protagonistas como a “Idade de Ouro” do rock, com mais interesse popular neste gênero e cada vez mais facilidades e permissões oficiais para shows e gravações, entre eles, o da primeira banda local a ser autorizada a cantar em inglês.

As guitarras estridentes, a poderosa bateria e as canções velozes e contundentes do rock, até há bem pouco proibidas pelo estrito regime islâmico, foram encontrando, desde que o moderado presidente Hassan Rohani assumiu o poder em agosto de 2013, um caminho fora do movimento “underground”, como é conhecida no Irã toda a música sem permissão oficial, e portanto, ilegal.

Piclavier, um conjunto formado por cinco jovens de Teerã, foi o primeiro destes grupos a obter permissão para tocar rock ao vivo, bem puxado para o “heavy metal”, com letras em inglês.

Com dois shows “de grande sucesso” no último ano e um álbum a caminho, os integrantes do Piclavier vivem este momento satisfeitos, no qual segundo eles, “o rock está encontrando seu verdadeiro lugar, tanto pela saturação que o público sente de outros gêneros, como o pop e o tecno, como pela sensação de que nos últimos tempos sentimos no Irã uma sociedade mais livre para trabalhar na música”.

Quem explicou foi Mehran Mokhtarpur, vocalista e compositor do grupo, que considerou que atualmente os únicos com problemas para lançar uma banda no Irã são “aqueles que não sabem como lutar com as regulações do sistema”.

“Cada país tem suas normas, suas regulações e tradições. É preciso respeitá-las se quiser fazer algo. Vivemos em um país onde muita gente nos considera reprimidos, mas a realidade não é tão categórica. Nós não somos uma anomalia. Seguimos as regras e obtivemos as permissões”, disse.

No Irã, qualquer artista que quiser fazer um show deve pedir permissão ao Ministério de Cultura e Guia Islâmica, que deve garantir que o evento cumpra os preceitos do regime.

Durante os primeiros anos da Revolução Islâmica, toda música de origem ocidental foi vista como contrária ao regime, e na prática foi eliminada da vida iraniana, uma atitude que foi relaxada no passar dos anos.

Em todo caso, a censura prévia à qual os artistas devem se submeter no Irã descarta plenamente qualquer canção inspirada no velho lema “sexo, drogas e rock and roll”, assim como em qualquer outro tema politicamente controvertido.

Por este motivo, muitos músicos iranianos optam por emigrar para poder desenvolver livremente sua arte, particularmente para Los Angeles, onde existe uma enorme comunidade iraniana e são gravados discos de todo tipo de gêneros que depois são contrabandeados para o Irã.

Apesar desta situação, Mehdi Mirzabagherian, produtor e manager do Piclavier, insistiu que hoje em dia obter permissão para atuar “não é difícil”, apesar de problemas que possam surgir com os mais recalcitrantes inimigos da liberalização cultural.

O primeiro show do Piclavier, programado para o começo deste ano teve que ser suspenso por problemas “burocráticos” e por pressão de grupos radicais, um obstáculo que foi superado apenas duas semanas depois com a ajuda das autoridades e com uma resposta muito boa do público e da imprensa.

“O que acontece é que muitos grupos não querem sair do “underground”, nem trabalhar no marco oficial, ou seus temas não obteriam permissão”, raciocinou o produtor.

Mirzabagherian disse que outras bandas como Comment, Oham e o vocalista Farshid Arabi, que tocam rock e cantam em farsi, fizeram shows com permissão oficial nos últimos anos, e saíram do entorno “underground” sem nenhum problema. EFE

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