Cinearte, em SP, fecha as portas por falta de patrocínio após 57 anos

  • Por Jovem Pan
  • 20/02/2020 11h54
NILTON FUKUDA/ESTADÃO CONTEÚDO Cinearte, tradicional conjunto de duas salas localizado dentro do Conjunto Nacional, na região da Avenida Paulista, em São Paulo, que fechará definitivamente suas portas por falta de condições financeiras

A sessão das 21h30 do premiado filme sul-coreano “Parasita” na noite de quarta-feira (19) torna-se o marco de uma triste notícia: será a última sessão do Cinearte – o tradicional conjunto de duas salas localizado dentro do Conjunto Nacional, na região da Avenida Paulista, que fechará definitivamente suas portas por falta de condições financeiras. O custo mensal era de aproximadamente R$ 200 mil, entre condomínio, aluguel e energia.

A crise começou em fevereiro de 2019, quando o distribuidor e exibidor Adhemar Oliveira recebeu da Petrobras a notificação de que o conjunto de duas salas (de 300 e 100 lugares) perderia o patrocínio a partir de 31 de março daquele ano, quando se encerrava o contrato que não seria renovado. Fazia cinco meses que ele buscava novos associados, mas sem resultados.

Na época, Oliveira usou uma metáfora para definir a situação: “Estou na lona de novo”. Segundo ele, a empresa foi beneficiada com a parceria. “O contrato com a Petrobras foi feito em 2018, em um momento que já era de retração, mas o que posso dizer é que, se foi bom para o cinema, o retorno de marketing para a empresa também foi”, disse.

Adhemar destacava a importância de manter os chamados espaços-cinemas de centros comerciais ou de rua. O impacto que eles têm sobre a vizinhança é imenso. “Os shoppings garantem um tipo de relação com o público que esses espaços não têm, daí a importância do patrocínio”, observou.

O cinema foi inaugurado em 9 de março de 1963, com o nome de Cine Rio e 500 lugares. Era a segunda sala no Conjunto Nacional que, desde 1961, contava com o Astor, então o mais luxuoso e moderno da cidade.

O filme de estreia foi “O Assassino”, do italiano Elio Petri, com Marcello Mastroianni. A programação, no entanto, se baseava em filmes populares, segundo informa Antonio Ricardo Soriano, no site Salas de Cinema de São Paulo. Como Cine Rio, o espaço encerra forçosamente suas atividades em setembro de 1978, quando um incêndio destruiu parte do Conjunto Nacional.

Em novembro de 1982, reabre novamente com o nome Cine Arte Um, com o filme “Mamãe Faz 100 Anos”, do cineasta espanhol Carlos Saura. A proposta da sala passa a privilegiar longas de arte. Em 1995, uma nova sala é incorporada ao conjunto, agora intitulado Cine Arte. A fusão dos dois nomes acontece em 2002, quando Adhemar Oliveira e Leon Cakoff, organizador da Mostra de Cinema de São Paulo, assumem a propriedade. Nessa época, já havia o déficit comercial, ameaçando constantemente o espaço de fechar.

Uma vigília cinematográfica foi organizada na noite do dia 25 de abril de 2003, chamando atenção para a dificuldade financeira do cinema. O trabalho frutificou e, em 2005, o espaço ganha um patrocínio, passando a se chamar Cine Bombril, agora reformado.

Em 2010, novo patrocinador faz com que o espaço passe a se chamar Cine Livraria Cultura, com os leitores do plano de fidelidade da livraria conseguindo desconto no ingresso do cinema. A Petrobras chegou em 2018, quando, no dia 29 de maio, a exibição do filme “Paraíso Perdido”, de Monique Gardenberg, reabre o cinema.

A empresa petrolífera não renovou, porém, o contrato em março de 2019, quando o cinema torna-se apenas Cinearte. Não foi possível alocar os funcionários em outras salas. Há, porém, uma esperança: no mercado, comenta-se que a rede Cinépolis estaria interessada em ocupar as salas. Não há, ainda, confirmação.

*Com Estadão Conteúdo

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